No comércio externo, o agronegócio brasileiro tem vivenciado movimentos opostos nos preços e no câmbio. No biênio 2009/2010, por exemplo, o agronegócio brasileiro ganhou em termos de preços externos e volume exportado - altas de 11,68% e 7,23%, respectivamente. Porém, tornou-se menos atrativo exportar: a perda de atratividade (preços externos convertidos em moeda nacional) das exportações brasileiras foi em torno de 7% de 2009 para 2010, mostrando que o aumento dos preços externos não foi suficiente para compensar a valorização de 16% da taxa de câmbio efetiva real do agronegócio.


Considerando-se o período de 2000 a 2010, os resultados do comércio internacional foram positivos para o agronegócio brasileiro. Os preços externos (em dólar) cresceram 68,32%; houve ganhos de participação no comércio, com aumento de mais de 140% no volume exportado; já a atratividade (preços recebidos em reais) cresceu pouco: 7%. Assim se deu porque o Real se valorizou fortemente, mais de 35% no período, principalmente na segunda metade da década. Essa apreciação se deu em relação a várias outras moedas, que têm seguido mais ou menos o mesmo caminho do dólar americano.


Em termos de destinos das exportações brasileiras do agronegócio, União Européia, EUA e China continuam aparecendo como os principais, com a diferença de que a pauta de produtos exportados para a UE e para os EUA é muito mais diversificada; já as compras da China no agronegócio brasileiro são concentradas - em torno de 90% - nos produtos do complexo da soja.


Dentre os produtos exportados, os do complexo sucroalcooleiro, do complexo da soja e as carnes aparecem na dianteira em termos de receita. Em 2010, o açúcar foi o produto de maior destaque, com crescimento de quase 17% do volume e de 36% dos preços em dólar – comparações sobre as médias de 2009.

 

Os anos 2000

 

Os preços dos produtos exportados pelo agronegócio brasileiro, em dólares (IPE-Agro/Cepea), cresceram de forma significativa nos anos 2000. Essa expansão tem sido contínua. Comparando-se a média de 2010 com a de 2000, houve alta de 68,32% dos preços em dólar - Figura 1. Já a taxa de câmbio efetiva real do agronegócio (IC-Agro/Cepea) teve valorização: 35,65% de apreciação comparando-se a média dos primeiros 11 meses do ano de 2010 com a média do ano 2000. Nesse mesmo período, a atratividade das exportações nacionais (IAT-Agro/Cepea), ou seja, o preço convertido em Real pela taxa de câmbio efetiva do agronegócio calculada pelo Cepea, apresentou crescimento de 7%, o que mostra que a alta dos preços em dólares dos produtos exportados superou moderadamente a valorização cambial, elevando um pouco a atratividade das exportações brasileiras. Por essa razão, ganha importancia o crescimento expressivo – de 140% – do volume exportado (medido pelo IVE-Agro/Cepea), evidenciando aumento de competitidade do agronegócio brasileiro no contexto internacional.


Figura 1 - Índice de Preços de Exportação do Agronegócio (IPE-Agro/Cepea) em dólar, Índice de Volume de Exportação do Agronegócio (IVE-Agro/Cepea), Índice de Atratividade das Exportações do Agronegócio/IAT e o Índice da Taxa de Câmbio Efetiva Real do Agronegócio (IC-Agro/Cepea). Dados anualizados.
Fonte: Cepea/Esalq-USP
Nota 1: Para o IC e o IAT, 2010 representa a média dos valores de janeiro a novembro.
Nota 2: O Índice de Câmbio representa a evolução da média ponderada das taxas de câmbio, em valores deflacionados, do Real em relação às moedas dos 10 mais importantes parceiros do agronegócio brasileiro.

Desde 2005, a valorização câmbial tem ganhado força. Não apenas o dólar americano tem se desvalorizado em relação ao Real, mas as várias taxas de câmbio entre o Brasil e seus principais parceiros comerciais se desvalorizaram no período de 2000 a 2010 – Figura 2. No caso do Yuan, o movimento é controlado propositalmente pelas autoridades chinesas. A exceção é a Rússia, cuja moeda tem se desvalorizado num ritmo mais lento que a dos demais parceiros do Brasil. Observa-se também que, embora o Reino Unido tenha se mantido fora da Zona do Euro, as duas moedas tem seguido o mesmo caminho e há uma clara tendência de aproximação entre elas. Já a Argentina vem se caracterizando por uma desvalorização mais intensa, mas é um parceiro comercial pouco expressivo do nosso agronegócio Esse sincronismo entre as várias taxas ajudam a acentuar ainda mais a valorização da taxa de câmbio efetiva real do agronegócio brasileiro (IC-Agro/CEPEA).


Figura 2 – Índices das Taxas de Câmbio Efetiva Real do Agronegócio brasileiro – Real frente às moedas dos seus principais parceiros comerciais - médias anuais
Fonte: Cepea/Esalq-USP
Nota: Para 2010, consideram-se valores de janeiro a novembro.

2009 e 2010

Após a queda em janeiro de 2010, os volumes mensais exportados pelo agronegócio estiveram em alta praticamente o ano todo, voltando a cair apenas nos últimos meses do ano. No quarto trimestre, comparativamente ao terceiro, a diminuição foi de 13,6% e, comparando-se o quarto trimestre de 2010 com o de 2009, crescimento de 10,9% - Figura 3.

 

Analisando-se os dois últimos anos, constata-se que os preços em dólares dos produtos exportados pelo agronegócio brasileiro (IPE-Agro/Cepea) recuaram de fevereiro até junho de 2009. Desde julho daquele ano esses preços seguem em expansão, com maior intensidade no final de 2010. Na comparação dos terceiro e quarto trimestres de 2010, houve forte crescimento de 12,7%; na comparação do quarto trimestre de 2010 com o de 2009, a alta é de quase 10% do IPE-Agro/Cepea.
O câmbio segue valorizando desde janeiro de 2009, refletindo no IC-Agro/Cepea. Na comparação do terceiro trimestre com a média de outubro e novembro de 2010, o câmbio real apresentou valorização mais amena, de apenas 0,3%. Já na média do último trimestre de 2009 comparada com outubro-novembro de 2010, a apreciação cambial foi de quase 10%. Como resultado, a atratividade apresentou queda praticamente o ano todo; porém, em outubro-novembro, a forte alta dos preços com o arrefecimento da valorização do câmbio real, proporcionou recuperação de quase 10% na atratividade do agronegócio no comparativo com o terceiro trimestre de 2010 (IAT/Agro/CEPEA).
Comparando-se as médias de 2010 às de 2009, observa-se alta de 11,68% nos preços em dólares, valorização de 16% da taxa de câmbio efetiva real do agronegócio e 7,23% de crescimento no volume exportado. Foi de 19% a alta do faturamento em dólares. Porém, a atratividade das exportações do agronegócio (IAT-Agro/Cepea) registra queda de 7,3%, devido à forte valorização do câmbio no período. Como resultado, o faturamento em Reais caiu 1,06%.

Figura 3 - Índice de Preços de Exportação do Agronegócio em dólar (IPE-Agro/Cepea), Índice de Volume de Exportação do Agronegócio (IVE-Agro/Cepea), Índice de Atratividade das Exportações do Agronegócio/IAT e o Índice da Taxa de Câmbio Efetiva Real do Agronegócio (IC-Agro/Cepea). Para o IPE e IVE, dados mensais de janeiro de 2009 a dezembro de 2010; para o IC e IAT, de jan-09 a nov-10 (Base jan/09).
Fonte: Cepea/Esalq-USP


Exportação por setor

No ano de 2010, predominou a valorização dos produtos do agronegócio brasileiro no mercado internacional. A maior parte dos principais produtos da pauta tiveram aumento tanto dos preços em dólares quanto do volume exportado. Porém, em termos de atratividade, a maior parte dos produtos sofreu perda, devido à forte valorização do câmbio no período.


O açúcar foi o produto que teve a maior valorização de preços (em dólar) no mercado internacional (alta de 35,83% comparativamente à média de 2009) – Figura 4. O grupo papel e celulose teve ganhos de 32,33%, álcool, de 28,91%, carne suína, de 25,98%, carne bovina, de 24,32% e café, de 24,26. Também apresentaram crescimento nos preços em dólar, a carne de frango (13,43%), o óleo de soja (12,08%), o suco de laranja (11,59%), as frutas (9,79%) e madeira e mobiliário (6,29%). Já soja em grãos (-1,33%) e farelo de soja (-26,04) apresentaram decréscimo.

 



Figura 4 – Valorização do preço em dólar (IPE/Produto Cepea) dos principais produtos da pauta de exportação do agronegócio - variações referem-se a comparações entre valores médios de 2010 e 2009.
Fonte: Cepea/Esalq-USP

Em termos de volume exportado, o açúcar mantém forte crescimento (de 16,91%) - Figura 5. Os produtos que também registraram expansão no volume exportado foram: farelo de soja (21,74%), soja em grãos (9,92%), madeira e mobiliário (9,29%), café (7,21%), carne de frango (6,02%), carne bovina (2,30%), soja óleo (1,75%) e papel e celulose (0,85%). As frutas (-2,83%), suco de laranja (-5,60%), carne suína (-13,07%) e o álcool (-45,10%) apresentaram recuo no volume exportado. Vale destacar que, embora tenha havido forte redução no volume exportado de álcool, esse produto é pouco expressivo quando comparado a outros produtos da pauta de exportações do agronegócio brasileiro

Figura 5 – Variação do Volume das Exportações para Produtos Específicos (IVE/Cepea) – variações referem-se à média de 2010 em relação à de 2009.
Fonte: Cepea/Esalq-USP

No ano, os únicos produtos com atratividade em expansão, no comparativo com 2009, foram: açúcar (13,36%), papel e celulose (10,43%), álcool (7,74%), carne suína (4,71%), carne bovina (2,66%) e café (1,85%). Todos os demais registram perda de atratividade, com destaque para farelo de soja (-37,46%), soja em grãos (-18,59%) e madeira e mobiliário (-12,71%). As frutas, óleo de soja, suco de laranja e a carne de frango apresentaram retração entre 6% e 10% - Figura 6.


Figura 6 – Índices de Atratividade da Exportação para Produtos Específicos (IAT/Cepea) – variações percentuais referentes a comparações entre jan-nov/2010 com o ano de 2009.
Fonte: Cepea/Esalq-USP

Principais Destinos e grupos de produtos

A União Européia continua sendo o principal mercado comprador dos produtos do agronegócio brasileiro. Em 2010, foi responsável por mais de 24% dos embarques (receita) brasileiros. A China mantém-se como o segundo maior destino, com participação superior a 14% das vendas do agronegócio. EUA e Rússia seguem na terceira e quarta posições, com participação de aproximadamente 6% cada.
Entre os 10 principais parceiros comerciais do agronegócio brasileiro, apenas a Argentina aparece como representante dos países do Cone Sul, com participação de quase 2% - Quadro 1. Destaca-se que a China tem concentrado suas compras em torno de 90% nos produtos do complexo da soja, principalmente a soja em grão.


 

Em termos de grupos de produtos, destacaram-se, em 2009 e 2010, os produtos do complexo da soja, com participação superior a 25%. O grupo “cana e sacarídeas” e as carnes também aparecem como os principais produtos exportados pelo agronegócio em 2009 e 2010, com participação superior a 19% cada grupo – Quadro 2.

 

Fonte: Cepea/Esalq-USP – elaborado a partir dos dados da Secex.


3. Conclusões

O agronegócio vem dando mostra de crescente competitividade no mercado mundial. O volume de exportações cresceu expressivamente em que pese a sistemática perda de atratividade, resultante da valorização cambial que tem mais do que compensado a subida dos preços internacionais. Isso tem sido possível graças ao aumento de produtividade e da eficiência de produtores rurais, cooperativas e demais agentes de mercado. Esse ganho de competitividade fica ainda mais impressionante se forem consideradas as notórias deficiências de infra-estrutura no Brasil.


As autoridades econômicas brasileiras têm procurado conter a valorização cambial através da formação de reservas e entraves ao livre fluxo de capitais no País. O resultado, como se vê, não tem sido capaz de reverter a situação, embora possa tê-la atenuado. Com isso, a forte aceleração de preços em dólares que se observa nos últimos meses tem sido mais intensamente internalizada no Brasil, com os esperados reflexos de alta no custo de vida e inflação.


O agronegócio deverá continuar ganhando espaço no mercado externo, angariando, assim, recursos para o Brasil. Face aos seus problemas macroeconômicos, a União Européia perdeu alguns pontos relativos no comércio com o agronegócio brasileiro, mas continua à frente da China, o que tem favorecido a diversificação das exportações. Aliás, a tendência mais recente tem sido de expansão do comércio sucroenergético e de carnes, com certa perda dos grãos e oleaginosas, cujos preços estão em retração.


Desde o início de 2010, o agronegócio nacional parece ter superado a crise, apesar da forte valorização cambial que tem prejudicado o faturamento em Reais do setor. Para o início do ano de 2011, espera-se uma pequena redução nas quantidades exportadas, já que os principais produtos exportados encontram-se em fase de entressafra. Contudo, pode ocorrer um aumento ainda maior para os preços em dólar, já que a demanda pelos produtos brasileiros segue aquecida. Fatores que apontam para a manutenção dos preços em níveis altos são: do lado da demanda, o forte crescimento dos países em desenvolvimento e dados positivos sobre a atividade econômica dos países desenvolvidos; do lado da oferta, eventos climáticos podem trazer redução do volume a ser colhido na próxima safra em vários países considerados como importantes exportadores de produtos agrícolas.

por Geraldo Sant´Ana de Camargo Barros, PhD
Professor titular USP/Esalq; coordenador Cepea/Esalq-USP

e

Andréia Cristina de Oliveira Adami, Dra.
Pesquisadora do Cepea/Esalq-USP
cepea@esalq.usp.br  



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