Opinião: Desmatamento e efeito midiático, por Kátia Abreu
24 May 2011
Foi anunciado pelo Imazon e pelo Inpe um aumento do desmatamento na Amazônia Legal e, em particular, no Estado de Mato Grosso. Os números de março/abril seriam um ponto fora da curva da tendência dos últimos anos, se comparados com os mesmos meses do ano anterior. Imediatamente, a notícia foi repercutida por várias ONGs e jornalistas ambientalistas, como se a votação do novo Código Florestal, prevista para ocorrer nesta semana, fosse responsável pelo desmatamento em questão.
Para esclarecer essa questão, algumas observações se impõem:
1. Os dados precisam ainda ser confirmados por uma análise mais minuciosa, pois há muitas variáveis em questões relativas ao tipo do equipamento utilizado e a época da medição. Observe-se que, desde 2003, a tendência é de nítida queda;
2. Consideremos, porém, que os dados sejam verídicos para efeitos de análise. Isto quer dizer que o desmatamento em questão foi feito sob a atual legislação, não se podendo tornar o novo Código Florestal responsável pelo que está acontecendo. Seria uma completa inversão;
3. Ademais, o relatório do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) estabelece como linha de corte para áreas consolidadas julho de 2008, e não maio de 2011. Logo, querer tornar o Relatório responsável deste novo desmatamento é uma flagrante irresponsabilidade;
4. O que sim falta, como manifestado pelo próprio deputado Aldo Rebelo, é a fiscalização do Ibama, que deveria ter se deslocado para as áreas em questão em Mato Grosso, registrando o fato e deixando claro que os seus autores seriam os responsáveis do ocorrido, seja com a atual legislação, seja com a nova;
5. O Ibama não cumpre com suas funções e, em seu lugar, surge uma campanha midiática contra a aprovação do novo texto do Código, que acontecerá provavelmente nesta semana. Na verdade, o "desmatamento" está beneficiando única e exclusivamente os ditos ambientalistas, que se mobilizam segundo os efeitos midiáticos almejados. Nenhuma ação concreta de controle do desmatamento é feita no próprio Estado de Mato Grosso;
6. Imediatamente, ONGs internacionais, como o Greenpeace, repercutem o fato para a opinião pública nacional e internacional, procurando, desta maneira, influir na votação da próxima semana;
7. Citação do site do Greenpeace: "A reviravolta no desmatamento - as taxas estavam em consecutivas quedas nos últimos anos - também chamou a atenção da imprensa internacional. Os britânicos Independent, Guardian e BBC, além da agência internacional Reuters, repercutiram a crise anunciada pelo governo". O objetivo, aqui, é claro: voltar a opinião pública internacional contra o Brasil.
O desafio desta semana é o da votação do novo Código Florestal. Para que isto ocorra, tornar-se-á ainda mais necessário empreender uma campanha de formação da opinião pública, seja nacional, seja internacional. Os ditos ambientalistas, em nítida inferioridade na Câmara dos Deputados, jogarão todas as suas cartas na opinião pública, como se o relatório do deputado Aldo Rebelo fosse o responsável pelo desmatamento desses dois últimos meses no Estado de Mato Grosso, o que é um evidente contra-senso. Se não conseguirem postergar novamente a votação, procurarão fazer com que certas mudanças sejam empreendidas por decreto e não por lei. Afinal, nos decretos emitidos pelo Ministério do Meio Ambiente sempre conseguiram fazer valer as suas posições. Perdem no voto, mas procuram ganhar nos atos administrativos, com o apoio da opinião pública. Eis a sua aposta.
Kátia Abreu é senadora da República e presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
Fonte: Sen. Kátia Abreu