Paralisação dos caminhoneiros: pontos falhos da lei podem encarecer logística
27 Jul 2012
O setor produtivo está preocupado com a resolução Nº 3056, da lei nº 11.442, estabelecida pela ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) por duas questões fundamentais: a primeira é que a mudança na legislação provocou paralisação dos caminhoneiros em várias partes do Brasil, com tendência a ter mais adeptos; a segunda é que, daqui pra frente, a medida resultará em encarecimento do transporte. Apesar de ter como objetivo regulamentar a profissão e preservar vidas nas rodovias brasileiras, reduzindo a carga horária, a nova medida está longe de solucionar a questão do valor do frete elevado. Para tratar deste tema, a equipe de jornalismo da Rural Centro entrevistou o consultor da CNA (Confederação Nacional de Agricultura), Luiz Antônio Fayet para fornecer um posicionamento dos produtores e também com o Arlindo Strack, presidente da Cooperativa de Transportes de Sidrolândia/MS.
Fayet informa que um dos problemas mal resolvidos do Brasil é o dos caminhoneiros. “A CNA está acompanhando este processo, fruto de uma negociação do Conselho Nacional dos Transportes com as entidades representativas das transportadoras”, ressalta o representante. Segundo Fayet, a lei tem que tomar em conta que o Brasil realiza o transporte de cargas vivas (pintainhos, aves, suínos, bovinos) e as cargas frigorificadas (carnes, lácteos etc). “As atividades do agronegócio, de carne principalmente, mostram que com as novas mudanças o frete vai subir 30% em relação ao patamar atual. E mais, nos tempos obrigatórios para descanso, não existem nem estrutura (tomadas, por exemplo, para manter a temperatura dos produtos) e muito menos segurança”, explica o consultor.
Em resumo, as novas medidas aumentarão o tempo de duração das viagens, exigirão mais veículos nas estradas, trazendo maior gasto com investimentos e onerando ainda mais o produtor. “A lei demonstra uma falta de conhecimento por parte dos nossos representantes em relação a nossa realidade”, afirma Fayet.
Para Fayet, é fundamental garantir descanso aos transportadores, mas uma simples passagem de um processo a outro é complicada. Antes disso é necessário um cronograma de adaptação e avisar à população que os produtos vão encarecer. “Ainda mais num país continental como o nosso, o reflexo será grande, inclusive se não houver um estímulo no uso das ferrovias e hidrovias”, complementa Fayet.
Vale ressaltar que, como mostram os números do CNT (Conselho Nacional de Transportes), o sistema férreo brasileiro é caótico e 80% das nossas rodovias estão em condições de tráfegos boas péssimas, ruins ou insatisfatórias.
Já Arlindo Strack, presidente da Cooperativa de Transportes de Sidrolândia/MS, afirma que há uma contagem regressiva para os caminhoneiros da sua região aderirem às paralisações: “No momento há nesta área um escoamento da produção de grãos, por isso os transportadores ainda não pararam, mas isso é por pouco tempo”, explica.
O governo criou uma lei tomando como base a generalização da classe e reduziu a carga horária, além de definir um salário base entre R$ 1.200 e R$ 2.400, ou seja, elevando o custo de um motorista para R$ 5 mil reais aproximadamente contando os encargos, prejudicando as empresas de transportes e, muito provavelmente, ocasionando desemprego. “Estamos de acordo de que o motorista tem um limite de horário, mas antes de tudo o Governo precisa priorizar outros problemas enormes como a qualidade das estradas e a insegurança”, reclama Arlindo. "Eu sugiro que, ao invés do piso, o governo estabeleça um preço mínimo por quilômetro andado entre R$ 4,7 e R$ 5, longe da atual realidade de R$ 3,20 e R$ 3,5/km", sugere o caminhoneiro.
Elevados custos de produção
Sem essa nova legislação, os problemas com os elevados custos de transporte de carga no Brasil já é um fator que prejudica a atividade agropecuária. Números da ANEC – Associação Nacional dos Exportadores de Cereais mostram custos logísticos elevadíssimos para o produtor de grãos, como o milho e a soja, transportar suas matérias-primas até os portos de exportação. O gráfico abaixo revela que em 2011 o agricultor brasileiro desembolsou 85 dólares no transporte de soja/milho até os portos, contra 23 dólares registrados nos EUA e 20 dólares vistos na Argentina. Outro fator agravante e que de 2003 a 2011 este custo triplicou aqui no Brasil, enquanto as linhas dos outros dois países oscilaram muito menos.
Fonte: Ana Brito / Rural Centro