A lógica da psicologia animal
O homem, o cavalo e o bovino: piscologia certa leva à harmonia do trabalho. Foto: www.doma.com.br
Comportamento das espécies depende de quem invade quem
(*) por Daniel de Paula
Toda reação depende de uma ação. A maneira como nos relacionamos com alguém é a mesma que receberemos de volta em qualquer relação. Entre homem e animal, de qualquer espécie, é a mesma coisa. Esse assunto faz tempo que está para ocupar esse espaço da Enfoque, porque cada vez mais, andando pelo País, percebo que no campo essa relação vai ficando cada vez mais evidentemente cordial dos dois lados.
Desde que conheci o processo de manejo racional, que está ligado à doma, à educação, comecei a perceber a lógica dessa psicologia. A primeira vez que tomei contato mais direto com o processo foi em uma enorme propriedade no Vale do Guaporé, Mato Grosso, onde o professor Eduardo Borba ministrava alguns cursos para a equipe de colaboradores da fazenda. Lá se vão quatro anos e de lá para cá aqueles ensinamentos se multiplicaram pelo Brasil, a fim de tornar mais “humana” a relação homem-animal, que recentemente Borba me revelou em seus escritos e aparições pelo Brasil se chamar “stockmanship” (que vem de livestock, criação pecuária).
Os métodos usados pelos educadores no campo são os mais diversos, mas todos levam em consideração aquilo que Borba frisa como ponto de partida para o sucesso dessa relação: a consciência de si. É partindo de suas ações que o homem estabelece o bom funcionamento do seu trabalho e alcança os objetivos de manejar um rebanho. Se ele conseguir entender a comunicação do animal, quando traz um lote para o curral, e convencê-lo de que ele ainda não vai virar bife, a chance de sucesso é grande.
Ainda vemos em algumas fazendas aquela gritaria ensurdecedora, ferroadas que visam fazer com que a novilha ou o garrote obedeça, uma imposição que projetos como o Doma, do professor Borba, já provaram não funcionar. É a óbvia competição que não existe, porque não se define quem está invadindo o espaço de quem. O homem pensa, mas não sabe que no animal existem zonas que ele desenvolve naturalmente, como predado. A zona de insegurança, que esbugalha o olho do bovino em estado de alerta; a de fuga, que ele traça com a aproximação do homem; a de pressão; a de conforto, quando começa a sentir segurança. Até que o homem consiga convencer aquele animal de que ele não está ali para disputar e atinja o “breaking point” do bicho, para que este aceite a relação amistosa dentro do curral e permita que o manejo seja conduzido com harmonia, sem estresse, sem risco para ambos. Não há receita. Entender esse processo leva apenas tempo e lógica, partindo da consciência de si.
Tem curral em que a gente vê os colaboradores em silêncio, com suas bandeiras na mão e o gado como que desfilando calma e obedientemente de um lado para o outro. Não há gritos, nem correria, ouve-se apenas o tropel dos passos dos animais manejados com conforto. Tem lugar que até música clássica soa para embalar o trabalho.
Há seis anos, li um estudo da Universidade Federal de Uberlândia revelando que trazer os animais ao curral para qualquer finalidade - vacinar, castrar, pulverizar, o que for – tira até 5 quilos de carne de cada cabeça por causa do estresse. Um processo como esse minimiza bastante o prejuízo. Resultado de uma psicologia que o homem pode utilizar nesse relacionamento. Como disse um amigo meu dia desses, num dos manejos que acompanhei: do jeito que o peão pega amor nos bichos, nesse processo eles vão se apaixonar de vez.
Em foco
* Minha personal stylist determinou que caprichasse nos exercícios nessas duas semanas que passaram porque vem aí uma maratona que pode mudar minha composição física. Essa semana será muito especial, porque volto a encontrar a turma do Senepol, em Pirajuí/SP, de onde vamos transmitir pelo Canal do Boi, de quarta-feira até sábado, o “De Olho na Fazenda” especial Grama Senepol. Zé Torneira e Júnior Fernandes recebem de novo muita gente importante para mostrarmos os preparativos para os três leilões do grupo Parceiros do Senepol – detalhes nos banners em Rural Centro/UOL. Além de muito conhecimento, vai ter boa convivência e, claro, muita carne de Senepol. Por isso, a exigência de chegar com sobra de espaço na carcaça.
* Vai dar uns R$ 2 bilhões o recurso do governo para evitar aumento da gasolina ainda este ano. Financiar a estocagem de etanol combustível, que vai evitar que o Brasil precise importar mais gasolina, é a medida empregada até o fim de 2013. Metade desse recurso é responsabilidade dividida por quatro bancos para repasse à indústria, como no caso dos R$ 500 milhões para a Copersucar na sexta-feira (6´set). O outro bilhão virá do Banco do Brasil. Na hora de abastecer o automóvel, agora, a gente vai lembrar disso.
* Do jeito que o dólar andou flutuando recentemente, tem gente comemorando segurar estoque para vender melhor suas commodities. Quem determina quanto vale a moeda é o governo e isso representa alguns riscos para o vendedor. Não deve ser nada fácil “jogar” com a cotação para ganhar mais. Deve ser bem difícil respirar nesse mercado que mais se parece com uma mesa de poker em que o jogador precisa adivinhar as cartas do oponente para, pelo menos, não perder. Assim como o jogo de cartas, o mercado internacional é pra quem tem sangue frio.
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Daniel de Paula é publicitário e jornalista desde 1989. Trabalhou em impressos, rádios e televisão a partir de São Paulo, onde foi criado e onde se formou, com destaque para oito anos como comentarista dos canais Sportv/TV Globo até 2004. Hoje é repórter do Canal do Boi, canal integrante do SBA (Sistema Brasileiro do Agronegócio).