(*) por Alex Marcel Melotto

O setor agropecuário brasileiro padece de inúmeras barreiras tarifárias, sanitárias, mercadológicas e ideológicas, sendo taxado injustamente de destruidor do meio ambiente entre outros. Neste contexto, para o setor que mais gera riquezas para o país e mantém o PIB em alta, elevar a produção por área deixa de ser um desafio e torna-se uma obrigação para aqueles que desejam permanecer no mercado. Planejar abertura de novas áreas é praticamente uma heresia e abandonar a atividade não é o desejo de ninguém.

Com um rebanho bovino que beira 20 milhões de cabeças, Mato Grosso do Sul sempre foi reconhecido e destacou-se pela pecuária extensiva. No entanto, nos últimos dez anos a agricultura, especialmente o plantio de soja e milho, tem crescido bastante, projetando o estado como grande potência no setor.

Com dois setores pujantes (quatro, se considerarmos o setor florestal e a cana-de-açúcar), temos a possibilidade de uni-los em prol da eficiência produtiva de ambos, intensificando a agricultura nas áreas de pastagem, em especial as degradadas, e melhorando as áreas pastoris por meio de eficientes reformas. Isso é perfeitamente possível por meio da integração lavoura-pecuária.

É fato que o principal fator limitante ao aumento dos índices produtivos na criação de gado é a pastagem. Quando não há pasto de qualidade, não há condições de se ter uma pecuária extensiva com bons índices de ganho de peso e muito menos com altas taxas de lotação. Desta forma, um sistema pecuário que integre lavoura ao ciclo da área, utilizando-a como ferramenta para a reforma das pastagens, é fundamental para o aumento da produtividade e manutenção da competitividade do setor.

Reformar a pastagem é, de fato, o desejo de muitos pecuaristas. No entanto, o alto investimento e o tempo de isolamento da área, necessários no método tradicional, inviabilizam muitos projetos. Ao utilizar a agricultura no processo, é possível pagar pelo menos parte da conta da reforma e ainda utilizar a área por grande parte do tempo e isolamento.

Não existe fórmula para que isto ocorra. Para cada região e cada propriedade pode haver um processo que cumpra com os objetivos agrícolas e pecuários. De uma forma geral, o plantio de milho tem atendido bem as demandas da produção. O processo inicia-se em junho/julho pela coleta de amostras de solo e encaminhamento para análise laboratorial. De posse destas resultados, faz-se a recomendação da correção inicial (calcário e gesso). Em seguida, inicia-se a aplicação dos corretivos e a mecanização da área, em agosto (Figura 1), que consiste no terraceamento e gradagens, assim como aconteceria na reforma da pastagem tradicional. A diferença é que esta será a primeira e única vez que a área passará por este processo.

Figura 1. Mecanização da área para reforma de pastagem com lavoura-pecuária, em Bela Vista, MS.

reforma de pastagens degradadas

Tendo a área corrigida em setembro, sob orientação de um profissional da assistência técnica, seleciona-se o híbrido de milho que será plantado, juntamente com o capim, respeitando-se o objetivo do sistema, se é produzir silagem ou grãos.

Este plantio pode ser feito de diversas formas, tanto em duas operações (uma para o plantio do capim e outra para o milho) quanto em uma única, especialmente com o uso de semeadoras com terceira caixa. A Fundação MS disponibiliza uma publicação bastante completa sobre o sistema no link www.fundacaoms.org.br/publicacoes.

Em torno de 6 kg de sementes puras viáveis já são suficiente para uma formação bastante eficiente (Figura 2, abaixo). Os capins Piatã, Marandu e o recém-lançado Payaguás têm apresentado excelentes resultados em consórcio com milho (Figura 2). Vale ressaltar que quando o milho estiver entre os estágios V4 e V6, o capim deverá ser suprimido com produtos químicos a base de nicossulfurom que retardarão seu crescimento, sem prejudicar o milho, evitando assim a competição no momento do desenvolvimento dos dois.

Figura 2. Consórcio de milho com capim-piatã em Figueirão – MS.

recuperação de pastagens degradadas

Caso o objetivo seja produzir silagem, em torno de 100 dias após o plantio a área estará em ponto de colheita. Se o destino for o uso como grãos, este prazo se estende para 120 dias, dependendo do híbrido escolhido.

No primeiro caso, a produtividade média é de 30 toneladas de silagem por hectare, caso a lavoura seja bem conduzida e, no caso do milho em grãos, estima-se uma colheita de 120 sacas por hectare.
Cerca de 30 dias após a colheita, inicia-se o uso da área com o gado, respeitando-se o manejo, em especial as alturas de entrada e saída dos animais da área recomendadas pela Embrapa.

Nos dois casos, haverá grande disponibilidade de alimento para o gado, tanto em estoque na propriedade, quanto prontamente disponível na forma de pastagem. Desta forma, o custo da reforma foi amortizado pela produção do milho, reduzindo os gastos ao longo do ano com aquisição de ração e melhorando a capacidade produtiva da área.

O ideal é que o sistema seja implantado em uma área diferente a cada ano e só retorne à mesma área quando houver necessidade de reformas, o que deve ocorrer, no mínimo, cinco anos após a utilização da integração. Pode-se, ainda, substituir o milho pelo sorgo, o que reduz o custo de implantação com perdas na qualidade nutritiva da silagem.

+ Consórcio de milho com capins: a hora da supressão é agora!

+ Plantio consorciado de milho com leguminosas: mais uma opção

+ Leia outros artigos da Coluna Fundação MS - Pesquisa na Prática

(*) Alex Melotto é biólogo (UCDB, 2006), especialista em gestão e manejo ambiental em sistemas florestais (UFLA, 2008), mestre em biologia vegetal (UFMS, 2010) e doutorando em agronomia (UFGD). Pela Fundação MS, atua como pesquisador do setor Sistemas Integrados.



Nosso site possui algumas políticas de privacidade. Tudo para tornar sua experiência a mais agradável possível. Para entender quais são, clique em POLÍTICA DE PRIVACIDADE. Ao clicar em Eu concordo, você aceita as nossas políticas de privacidades.