Estimativa de entregas, 25 de setembro de 2014: 32,92 a 33,27 milhões de toneladas

(*) por João Santucci

A projeção realizada no dia 29 de agosto sugeria entregas totais de fertilizantes em 2014 entre 33,48 e 34,46 milhões de toneladas. Agora, entretanto, com a inclusão do número referente a agosto (entrega de 3,608 milhões de toneladas), o modelo de séries temporais utilizado ajustou a faixa para entre 32,92 e 33,27 milhões de toneladas.

As projeções são realizadas pelo método de Holt-Winters, particularmente eficaz para estimar valores a partir de séries históricas com tendência sazonal (períodos de alta e baixa bem definidos). O método possui duas variedades de estimação: (i) aditiva (HWa), que implica diferença constante entre valores máximos e mínimos de uma mesma estimação; e (ii) multiplicativa (HWm), que retorna maior diferença entre valores máximos e mínimos quanto maior for o horizonte de estimação. Ambas foram empregadas.

Os modelos de séries temporais – como o de Holt-Winters – projetam entregas futuras identificando padrões no comportamento das entregas no passado em intervalos específicos, dando peso maior às observações mais recentes. Por esta razão, a retração nas entregas em ago/14 contra ago/13, de 1,8% e o avanço modesto entre julho e agosto em 2014 se comparado à série histórica (neste ano, as entregas de agosto foram 11% maiores do que as de julho, enquanto, nos últimos cinco anos, o avanço médio entre os dois meses foi de 18,56%), fizeram com que a estimativa recuasse em relação à última realizada, que contava apenas com os bons números verificados em junho e julho.

Os resultados da modelagem estão dispostos abaixo, na forma de gráfico e tabela.

Estimativa de entregas de fertilizantes no Brasil (mil toneladas)

mercado de fertilizantes no brasil
Fonte: INTL FCStone

Estimativa de entregas de fertilizantes no Brasil (mil toneladas)

mercado de fertilizantes no brasil agosto 2014
Fonte: INTL FCStone

Há de se analisar com cuidado os dados das projeções, uma vez que, como já enunciado, as estimativas realizadas por séries temporais não possuem embasamento fundamentalista, apenas replicam padrões verificados no passado.

Agora, que estamos às vésperas do plantio da safra de grãos, alguns fundamentos de mercado podem ser incorporados à análise para comentar os novos números.

Mesmo considerando as relações ruins entre grãos e fertilizantes, entende-se que elas não terão grandes impactos sobre a demanda para a safra verão 2014/15, uma vez que a aquisição dos insumos já foi feita de forma antecipada, e a demanda residual que deixaria de se manifestar nos meses de agosto, setembro e outubro não é ampla o suficiente para derrubar as expectativas formuladas quanto às entregas.

Pelo contrário, considerando uma relação melhor para a soja no comparativo com o milho, não surpreenderia se parte da área usualmente dominada pelo grão na primeira safra fosse tomada pela oleaginosa, cujo uso de insumos por hectare é maior, mantendo firme o volume total de 2014. Além disso, vale lembrar que, em termos absolutos, a retração mais notável nas entregas de agosto ocorreu em São Paulo, e guarda relação com o momento difícil vivido pelo setor sucroalcooleiro.

O cenário torna-se mais preocupante quando olhamos mais adiante, para os meses de novembro e dezembro. As expectativas ruins quanto à rentabilidade das lavouras representam ameaça maior à demanda doméstica.

Mesmo em contexto normal, a intensidade tecnológica do milho safrinha já é baixa. O uso de fertilizantes é menor. O algodão, plantado também no início do ano no Centro-Oeste, poderia entrar como alternativa. Entretanto, os preços da commodity no mercado internacional também são muito baixos, configurando-se como investimento tão ou mais arriscado do que o milho, em decorrência do uso intensivo de insumos. Alternativa para a safra de inverno seria uma prática que ganhou visibilidade no ano passado, de plantar soja.

Entretanto, está descartada a possibilidade de plantar soja safrinha de novo. Na safra 13/14 isso se provou uma experiência ingrata para o agricultor. O acúmulo da mesma cultura na mesma área em dois ciclos diferentes significa, também, o acumulo das mesmas pragas, o que eleva muito o custo com defensivos quanto mais vezes se insiste na mesma commodity. Ninguém (ou quase ninguém) deve repetir esse erro na safra 14/15.

Vamos plantar soja safrinha

Se não teremos soja, as alternativas para a segunda safra são as mesmas de antes: milho e algodão.

Como a cotonicultura é a atividade de ampla escala que mais exige investimento em fertilizantes e defensivos por hectare, o risco associado é grande demais e torna os agricultores menos propensos a ampliarem a área de algodão.

O "play safe", então, apesar dos péssimos preços e relações de troca com insumos, é o milho. É uma cultura de baixo investimento e, ao mesmo tempo, evita o problema de acúmulo de pragas da safra principal para a segunda safra. Importante lembrar, também, que a rotação entre milho e soja ganha importância no fato de que a oleaginosa é fixadora de nitrogênio no solo, principal nutriente para o grão.

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O milho também é viável para o produtor que já plantou algodão na safra passada, porque ele tem um solo riquíssimo em decorrência do uso intensivo de adubo. É só jogar que nasce, e nasce bem.

Toma-se, então, a seguinte possibilidade para a segunda safra: a área de milho toma parte da área de algodão e não haverá soja. E isso, claro, se o avanço sobre as outras culturas não for suficiente para compensar uma possível perda de área no milho.

Se o cenário é ruim para a agricultura, também não é bom para o mercado de fertilizantes. Por mais que a safrinha comande as entregas do último bimestre do ano, o preço do grão não serve de nenhum estímulo ao investimento na lavoura. Sobretudo considerando que o investimento no milho safrinha é normalmente baixo, e as entregas de fertilizantes do fim/início de ano só ganham algum fôlego em função da área semeada, que sempre é grande.

Pelo que foi exposto, acredita-se que as entregas avançarão pouco, e que valores mais próximos da porção inferior da projeção realizada sejam muito mais prováveis do que o limite máximo fornecido pelo modelo.

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(*) João Santucci é analista de fertilizantes da consultoria INTL FCStone

Foto: Reprodução / cidasc.sc.gov.br



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