Método ainda pouco usado no Brasil pode gerar muita economia na dieta animal

(*) por Daniel De Paula

Um método ainda pouco explorado no Brasil tem se revelado uma grande solução econômica na pecuária brasileira. A floculação pode ser mais amiga do pecuarista leiteiro, do confinador ou de qualquer outro produtor do que se pode imaginar. Apesar do nome ser um pouco esquisito - vem do verbo flocular = tornar flóculo - e ainda pouco conhecido, a técnica requer um investimento nada assustador e pode trazer resultados. Assumo este tema aqui hoje pelo que vi dia desses numa fazenda no Vale do Araguaia goiano.

Dois dias de muito sol em Nova Crixás/GO e eu passando pela Fazenda Conforto, maior confinamento do Brasil. Foi lá que conheci a tal máquina de floculação. Mal sabia eu que um grão pode se tornar um floco, porque é isso o que mostra o detalhe da foto que tirei com esses flocos de grão de sorgo que a Conforto utiliza para alimentar 44 mil bois de sua capacidade estática de confinamento - o abate chega a 80 mil no ano, com projeto para 100 mil animais enviados a frigorífico em menos de duas temporadas.

O processo parece simples. A máquina ainda é rara no Brasil - só existe ali e em uma propriedade no Sul de MG. Consiste em utilizar vapor para potencializar o amido dos grãos, mudando sua estrutura molecular. O grão é aquecido a uma temperatura próxima dos 100º C, para facilitar a sua quebra pelos rolos que dão aquela esmagada no grão para quebrá-lo, para floculá-lo.

máquina de floculação de grãos
Máquina de floculação de grãos ainda é rara no Brasil. Foto: Daniel De Paula. Clique na imagem para ampliar.

Cada grão parece mais leve do que quando chega na máquina e o grande objetivo fica mais próximo de ser alcançado por causa do efeito que ele causa na dieta bovina. Lendo relatórios de um encontro de Zootecnia e Ciências da Unesp-Dracena/SP, de 2010, descobri que esse processo pode melhorar a utilização dos grãos pelos animais em razão do aumento da digestibilidade no rúmen e, consequentemente, no trato digestivo total.

Eficiência biológica e redução do custo da @ produzida em confinamento

grãos de sorgo floculadosO que vi no Vale do Araguaia foi grão de sorgo floculado, porque o milho não está nem pra peixe, quem dirá pra boi confinado. E quem dirá pra 80 mil deles! Mesmo mais em conta, o sorgo também custa. Então, vamos às contas, começando pela máquina, que nesse caso visto lá na Conforto é importada. Mas uma floculadora aqui é possível encontrar por preços perto dos R$ 20 mil. Nada monstruoso pelo benefício que vem trazendo, segundo os estudos de entidades especializadas.

Na Conforto, o diretor executivo Cláudio Braga me fez uma conta rápida no meio de uma chuva de sorgo floculado, que vimos no meio da fazenda, com milhares de cochos espalhados em volta da fábrica de ração. Como a silagem eles produzem com lavouras irrigadas por pivôs, a compra do grão para composição da dieta é em grande escala. Até antes da floculação, eram necessárias 800 mil toneladas, para um período, digamos, de 90 dias de confinamento.

Com a floculação, a compra passou a ser de 700 mil toneladas. Ao preço médio de R$ 21,00 a tonelada, a economia chega a R$ 2,1 milhões para terminar uma boiada. Parece pouco para uma empresa que fatura R$ 185 milhões por ano. Pouco mais de 1%, mas 2 milhões de reais...

O outro benefício tem a ver com o estudo da Unesp-Dracena. Braga não diz que o boi engorda mais e mais rápido com a floculação, mas reparou nas fezes dos animais que o desperdício era bem menor, porque foram encontrados menos grãos inteiros. Ou seja, comprova a digestibilidade. As perdas, segundo ele, caíram de 25% para apenas 3%, daí a economia muito grande.

Há quem diga que essa floculação é indicada apenas para grandes confinamentos, como esse aí citado, que ganhou por dois anos seguidos o prêmio Nélson Pineda de excelência pela Assocon. Mas imagine esse método utilizado na pecuária de leite, onde a produção a pasto fica tão comprometida com a atual situação climática do Brasil, em que até a nascente do Rio São Francisco secou. É ou não é uma grande solução? Simples. E que pode gerar um grande benefício econômico, mesmo que seja o sorgo a trazer esse milhão que o milho hoje não deixa. Claro, porque só de não gastar já se está ganhando.

sorgo floculado
Chuva de sorgo floculado: melhor digestibilidade poupou R$ 2,1 milhões dentro do maior confinamento do Brasil. Foto: Daniel De Paula. Clique na imagem para ampliar.

Em Foco

* Não é em qualquer pasto que você se depara com uma bezerra de um ano filha direta do Karvadi em mãe Golias. Pois na Fazenda Barreiro Grande dei de cara com várias fêmeas dessas linhagens, entre elas uma bezerra que Paulo e Adir do Carmo Leonel exibem com orgulho. O touro que ajudou a fazer o Nelore brasileiro na década de 60 e morto em 1972 ainda tem genética muito bem utilizada pela 2L. Bacana de ver a conservação dessa pureza racial misturada com produtividade funcional.

bezerra nelore
Bezerra Nelore filha de Karvadi em mãe Golias. Crédito: Daniel De Paula. Clique na imagem para ampliar.

* Foi mais um grande trabalho do grupo Parceiros do Senepol e da S+, que coordenou os dois leilões que fecharam o Vitrine do Senepol semana passada, pelo Canal do Boi. Dia 23, os 120 touros de dois anos saíram pela média de R$ 11 mil cada, para 30 compradores de seis Estados. Dia 26, 40 jovens doadoras Safiras foram negociadas a valores próximos de R$ 37 mil de média. Um show de genética só pode ter um show de resultado. Parabéns S+ e Parceiros!

* Voltando ao Nelore 2L, Adir e Paulo Leonel têm preparado abate técnico de lotes de filhos de seus touros. Uma nova prestação de serviços desses dois caras que trabalham para a pecuária, dela e nela vivem. Os primeiros dez bezerros filhos de Jiandut FIV 2L terão avaliação de carcaça em Brodowski/SP e serão abatidos num frigorífico em Ipuã/SP no próximo mês. Depois serão lotes de filhos de Opus, Naman, Jalad e Lico que a 2L vai comprar dos usuários de sua genética, para poder estabelecer em catálogo a capacidade que seus reprodutores podem gerar. Uma sacada muito legal que será copiada por muitos selecionadores tão preocupados quanto eles com a produtividade da pecuária brasileira. Quando houver resultados, aqui traremos. Enquanto isso, vamos seguir. Até lá.

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Daniel de Paula Coluna Enfoque Rural Centro
Daniel De Paula
 é publicitário e jornalista desde 1989. Trabalhou em impressos, rádios e televisão a partir de São Paulo, onde foi criado e onde se formou, com destaque para oito anos como comentarista dos canais Sportv/TV Globo até 2004. Hoje é repórter do Canal do Boi, canal integrante do SBA (Sistema Brasileiro do Agronegócio).



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