José Luiz Alves Neto / Rural Centro

Os últimos serão os primeiros. O ditado se aplica à atual realidade de Rondônia. A unidade federativa que é relativamente nova está se transformando aos poucos na “menina dos olhos” do Brasil para a exportação de produtos e pode ser a solução para o caos logístico que os portos do Sudeste e do Sul do país apresentam. Com a possibilidade de vender para outros países tanto pelo Oceano Atlântico (pela Hidrovia do Rio Madeira [Foto: Assessoria / SOPH-RO]) ou pelo Oceano Pacífico através de portos chilenos, os empreendedores do estado estão investindo em produção e industrialização com vistas às oportunidades, tanto que as exportações do estado foram as que mais cresceram no país entre 2011 e 2012 (+62%). Soja e carne bovina ajudam a compor 83% do volume total embarcado, juntamente ao minério de estanho.

Na pecuária de corte, o rebanho rondoniense cresceu 190% nos últimos dez anos e atraiu as indústrias frigoríficas com Serviço de Inspeção Federal-SIF, que são nove ao todo. O número é considerado ótimo, comparando com outros estados tradicionais na pecuária, como Goiás, que tem uma unidade a mais. Além da quantidade, a modernidade das plantas também é elogiada, o que certifica a produção de carne bovina do estado. “Nós temos clima bom, bom número de indústrias e frigoríficos modernos, com SIF e SIE (Serviço de Inspeção Estadual). Rondônia também está à frente por ter produtores de cabeça aberta, que aceitam desafios e discutem os fatos”, classifica Luiz Carlos Lyra, pecuarista e presidente da Associação Rural de Rondônia.

Pela mentalidade empreendedora dos produtores da região, a cidade de Ji-Paraná, a segunda mais populosa do estado, foi escolhida para receber a quarta etapa do Circuito Feicorte 2013. O evento já foi realizado em Cuiabá/MT, Palmas/TO e Campo Grande/MS. “Passamos por uma situação em que o produtor rural que vive exclusivamente de seu agronegócio tem que dividir esse conhecimento e até passar para outros estados. Já temos muita história para contar sobre a nossa produção”, contextualiza Lyra.

História de Rondônia
Ainda com o nome de Território de Guaporé, a Unidade Federativa foi instituída em 1943, mudando o nome definitivamente em 1956. Assim como aconteceu em outros estados do Centro-Oeste, como Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, Rondônia recebeu migrantes de todo o Sul do Brasil e alguns estados do Sudeste, como Minas Gerais e Espírito Santo. Os pioneiros tiveram que desbravar a região e abrir uma nova fronteira agrícola, como ocorreu com a família do produtor de Miguel Ramires.

Em 1986, junto aos seus pais, que já haviam sido agricultores no Paraná e São Paulo, Ramires estabeleceu-se em uma propriedade em São Miguel do Guaporé, a 500 km de distância da capital Porto Velho. “Nós desbravamos Rondônia. Primeiro tínhamos que entrar pelo rio, só depois que a estrada foi surgir”, lembra Miguel. Há cinco anos o produtor dedica-se à pecuária bovina e cria 800 cabeças na propriedade. Pela necessidade de tecnificar sua fazenda, Miguel deslocou-se 140 km até Ji-Paraná para participar do Circuito Feicorte 2013 e tirou proveito das palestras que assistiu. “De cara, vou mudar o manejo. Já tinha a intenção de fazer o pastejo rotacionado para ter melhor aproveitamento de pastagens e tirei minhas dúvidas aqui no evento”, atestou.

Outro exemplo de sucesso de Rondônia que serve para qualquer outra praça importante do país em termos de produção agrícola é o da pecuarista Carla de Freitas, que em 1997 herdou a Agropecuária Bela Vista de seu pai, Moisés de Freitas. Sempre buscando novas tecnologias, a fazenda passou de uma taxa de fertilidade das fêmeas de 63% para 87%. A produtividade passou de uma unidade animal/hectare para 1,5 UA/ha e a meta é produzir 12 @/ha/ano. Para alcançá-la, Freitas começou a integrar as pastagens com agricultura a partir de 2008 e cultiva atualmente 1600 hectares de grãos com uma produtividade média de 58 sacas de soja/ha. A história da Agropecuária Bela Vista foi a inspiração de Carla para a palestra “Transformação da pecuária em Rondônia e novas formas de comercialização”, que fez parte da grade do Circuito Feicorte Ji-Paraná 2013.

Integração lavoura-pecuária: produtora conta caso de sucesso

Sucessão familiar agropecuária
Carla de Freitas e Miguel Ramires são exemplos bem sucedidos de produtores que passaram pela sucessão familiar. O assunto foi tema de uma das palestras do circuito, ministrada pelo economista, administrador e consultor Francisco Villa. “Com 60 anos não se é capaz de assimilar as novas tecnologias e os avanços científicos até porque a formação acadêmica e escolar do patriarca foi diferente da aplicada às novas gerações”, informa Villa.

O desafio agrícola de produzir mais, melhor e em menos tempo ressalta a necessidade de realizar uma sucessão de forma mais natural o possível, o que, de forma geral, não tem ocorrido. Por isso que há 30 anos apenas 12 empresas produziam em áreas superiores a 30 mil hectares no Brasil, passando atualmente para mais de 40 que operam nessas extensões. Isso denota a concentração de áreas adquiridas por grandes grupos que buscam a expansão de suas atividades e acontece, principalmente, pela falta de renovação do gerenciamento das propriedades menores, revelou o consultor. No Sul do país, por exemplo, uma pesquisa apontou que 37% dos produtores não têm sucessores. “Com certeza, outros 20% acham que têm, mas não”, preocupa-se Villa.

Economia de Rondônia

Luiz Carlos Lyra Sociedade Rural de Rondônia Circuito Feicorte 2013 Ji-Paraná

Luiz Carlos Lyra, pres. da Assoc. Rural de Rondônia. Foto: Wisley Torales / Agroin Comunicação

Pela prosperidade da agropecuária rondoniense, essas mudanças estão sendo bem administradas. “Nosso estado é formado por pequenas propriedades. Aconteceram fusões de áreas, mas esse perfil ainda se mantém”, diz Luiz Carlos Lyra. Segundo o IBGE, Rondônia é o quarto estado brasileiro com melhor distribuição de terras, ficando atrás apenas de Roraima, Santa Catarina e Acre, respectivamente.

O que o estado tenta remodelar é a imagem de uma economia extrativista para a que de fato sustenta sua população hoje: produção agrícola e transformação das matérias-primas, o que passou a acontecer com a chegada das indústrias. “Voltando na história, no estado de Rondônia o desenvolvimento estava pautado no extrativismo. Muitos lá fora ainda nos veem desta forma. O extrativismo teve uma curta duração e hoje nós partimos para um momento de industrialização”, avalia o Secretário Adjunto de Desenvolvimento Econômico e Social de Rondônia, Adilson Júlio Pereira. Atualmente, o PIB de RO é formado 21,5% pela Agropecuária, 14,6% pela Indústria (sendo apenas 0,4% de natureza extrativista) e 63,9% por Serviços.

 

Confúcio Moura no Circuito Feicorte 2013 - Ji-Paraná
Confúcio Moura, governador de Rondônia. Foto: Wisley Torales / Agroin Comunicação

Confiante na evolução da economia do estado, o governador Confúcio Moura acredita que nenhum outro estado da Região Norte tem capacidade para ser melhor que Rondônia, principalmente em relação à logística. “A distância para o Pacífico é menor que para o Atlântico. Mato Grosso exporta por aqui. É mais barato do que enviar carga para Santos ou Paranaguá. Mesmo se optar pelo Atlântico, tem a hidrovia passando pelo Rio Madeira, ou seja, nós temos uma multimodalidade de transportes alternativos extremamente rica”, afirma. Além de investimentos na ordem de R$ 354 milhões na reformulação do Porto Público, na capital Porto Velho, Rondônia já licitou os projetos básico e de impacto ambiental para o prolongamento da Ferrovia Transcontinental, que agora, ao invés de terminar em Vilhena, será ampliada em 700 km até a capital (imagem abaixo. Reprodução / Valec.gov.br).

Ferrovia Transcontinental - Vilhena a Porto Velho
 

Circuito
A próxima parada do Circuito Feicorte 2013 será Paragominas, no Pará, entre os dias 06 e 07 de novembro. Confira a programação prévia:

Feicorte Paragominas 2013

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