Gir Leiteiro melhorado no Brasil vai incrementar o da Índia, berço do Zebu

Foto: Jadir Bison / ABCZ

Em marcha na Índia o Plano Nacional de Lácteos, que visa, entre outras coisas, utilização de recursos da ordem de US$ 24 milhões captados junto ao Banco Mundial para investimento em tecnologia que resulte em uma melhor dieta para as vacas leiteiras. O projeto original do Comitê Nacional de Desenvolvimento do Leite na Índia distribuiu também em vários estados recursos que chegam até a US$ 41 milhões para criação, em cinco anos, de 2.500 touros gir leiteiro de alto valor genético para cobrir a vacada por lá. E sabe onde os indianos vão buscar genética para cumprir essas metas? No Brasil.

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A Índia produz atualmente 133,5 milhões de toneladas de leite, dados de 2012, com meta de tirar até 2018 mais de 155 milhões de toneladas. Quase 20% do que o mundo tem de leite! Sem importar se esse número deixa a Índia em primeiro ou segundo no ranking de maior produtor mundial desse alimento básico, todo o volume é consumido lá mesmo por uma população que chega a 1,3 bilhão de habitantes, em que 300 milhões são riquíssimos e o restante vive na pobreza. Sem poder comer carne sua por cultura milenar esse contingente se nutre de produtos lácteos, o que explica o consumo dessa enxurrada de leite – subiu de 260g por habitante para 290g de 2011 para 2012.

Não precisa esforço para lembrar que o Gir Leiteiro desenvolvido aqui é oriundo do Gir indiano, mas muito melhorado. Agora, vai corrigir o desvio de rumo na produção de animais leiteiros do berço do Zebu. As vacas indianas passaram nos últimos dez anos por cruzas com raças europeias, mesmo de corte, banalizando o Gir e reduzindo o rebanho. Hoje, eles sentem necessidade de renovar o seu pobre banco genético da raça.

A preferência por leite de búfala, por exemplo, na província de Gujarat, onde o Gir nasceu há milênios, explica um pouco a redução do rebanho puro. Segundo um príncipe local lembrou ao jornal The Times of Índia, a busca por um teor de gordura mais elevado e um volume como o que mostramos era exatamente para atender essa demanda crescente. Isso gerou um salto na utilização de Inseminação Artificial. Se por aqui, em 2012, foram usadas 14 milhões de doses de sêmen, segundo a Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia), na Índia esse número voa para 120 milhões de doses! Por isso os criadores de Gir Leiteiro aqui estão esfregando as mãos. A dinheirama do governo indiano e de setores da iniciativa privada vai servir para melhorar a bóia da vacada de leite, mas sobretudo para garantir alto valor genético que ajude a cumprir essas metas, além de resgatar o Gir por lá. Eles precisam do nosso material.

Só tem um problema. Conversei com o amigo Fernando Vilela, doutor em exportação de material genético pela ABS Pecplan e figura muito procurada pelos indianos que visitam regularmente o Brasil, e ele lamenta a burocracia dos dois países. Os Ministérios de Agricultura do Brasil e da Índia já tinham tudo estabelecido para o protocolo sanitário, mas surgiu de lá a exigência de um atestado contra paratuberculose, que nunca existiu aqui. Como quem negociava do nosso lado não é técnico no assunto, acatou. Mas não há laboratório no Brasil credenciado para emitir esse atestado. Os indianos precisam reconhecer um laboratório rápido, para que ele possa importar kits para o exame e atestar o material genético que está prontinho pra viajar na forma de embriões e sêmen, sexado e convencional. Com um número que, se for 1% do que a Índia usa para inseminar suas vacas, pode passar de 1,2 milhão de doses. Doutor Vilela garante que as centrais de sêmen no Brail têm condições de produzir até mais que isso.  E só para um mercado! Por isso o alvoroço.

Em foco

- Começa neste dia 28 de fevereiro missão do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para derrubar embargo à carne brasileira. Três grupos se dividirão até o meio de março para reabrir mercado em 11 países do Oriente Médio e Ásia e reaver os quase US$ 20 milhões que deixam de entrar nos cofres brasileiros, segundo a Abrafrigo, com a restrição decorrente daquele problema da suspeita de vaca louca em Sertanópolis, norte do Paraná, em 2012. Na bagagem, técnicos do Mapa levam recente documento da OIE (Organização Mundial de Saúde Animal) atestando o Brasil com risco insignificante para a doença.

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- Escândalo na Europa com a comercialização de produtos com carne de cavalo ao invés de carne de boi me remete ao ponto das exigências rigorosas por parte dos mercados europeus com relação à segurança da nossa carne – inclusive e principalmente nas informações sobre origem. Tem gente questionando: que moral terão agora os europeus para cobrar tanta segurança alimentar se não fazem direito em casa?

- Lançado no Dia de Campo da Fazenda Modelo II, em 22fev, em Ribas do Rio Pardo/MS, sistema de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) criado pela empresa em parceria com a MS Integração que não elimina mais o plantio da soja após a segunda safra por causa do excesso de sombra. Bastou aos técnicos dar um espaço maior entre as fileiras de árvores – na fazenda chega a 100 metros a cada cinco linhas de eucalipto – e pronto. Pastagem e agricultura podem dividir o chão conforme a estratégia desejada com alta produtividade e resultados excelentes nas três atividades. A técnica foi batizada Pró-Boi, mas pode chamar de pró-soja ou pró-floresta que está tudo bem.

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