* A Coluna Enfoque voltará a ter textos inéditos a partir de 13 de janeiro. Leia abaixo um dos textos mais lidos do ano de 2013.

Infraestrutura pode ser responsável, de novo, por prejuízo histórico no pós-colheita

Logística da soja

Foto: Thaiany Regina / Rural Centro
 

Essa ninguém me contou. Não ouvi falar. Essa eu vi. O que fica de soja derramada nas estradas do Brasil é uma grandiosidade perigosa, triste. E olha que já faz tempo que esse problema acontece, mas não existem políticas públicas focadas em saná-lo.

Em março de 2005, larguei a vida urbana para desbravar o agronegócio através do Canal do Boi. Meu primeiro compromisso na emissora foi um documentário sobre os “Caminhos da Produção”. Percorremos, eu e um cinegrafista, quase oito mil quilômetros em duas semanas para retratar os problemas encontrados pelos motoristas que carregam a nossa produção rodovias afora. E o que vi me assustou. Caminhões com arroz tombando à margem de uma rodovia sem acostamento, bem na minha frente. Eixos daqueles trucões pesados passando por buracos imensos e quebrando ruidosamente. Caminhoneiro chorando por não saber quando - e se - voltaria pra casa após entregar no porto a soja do patrão. Caminhão de aves desviando de buraco e capotando, esmagando os bichinhos. Fora isso, a parte econômica, foco do nosso texto aqui.

Na época, saiu a notícia de que o Brasil estava emprestando para Bolívia e Paraguai o equivalente a US$ 1,4 bilhão para melhoria das estradas desses países vizinhos. E nós precisando de estrada para escoar com segurança safra recorde atrás de safra recorde. Lá se foram oito anos desde que partimos de Campo Grande/MS, subindo Cuiabá, Nova Mutum, Sorriso, voltando por Lucas do Rio Verde, Cuiabá, Rondonópolis, Primavera do Leste, tudo no MT, passando por Campo Grande e rodando até Paranaguá/PR, subindo de volta por Santos e Ribeirão Preto, em São Paulo, até retornar de novo a Campo Grande, sede da emissora. Nada mudou desde então.

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O Brasil está tirando agora do chão 186 milhões de toneladas de grãos. Dos quais 85 milhões apenas de soja, para ficarmos no grão mestre da nossa agricultura, o mais volumoso. Recentemente, encontro em Sinop/MT com produtores e associações revelou que entre 10% e 12% o Brasil perde no pós-colheita. São 10,2 milhões de toneladas de soja perdidas! A conta é do diretor executivo da Aprosoja-MT (Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso), Marcelo Duarte Monteiro. Resultado de um projeto da entidade em parceria com a Universidade de Illinois, Estados Unidos, que estuda diversos gargalos, tanto aqui como na Índia.

Problemas encontrados na colheita sem precisão, algumas sem a devida tecnologia, armazenamento precário, falta de controle de doenças e até classificação do produto a ser comercializado. Todos componentes da conta que, segundo o diretor da entidade, pode chegar a US$ 5 bilhões de prejuízo!

Dia desses o gerente de planejamento da Aprosoja, Cid Sanches, me esclareceu que no Brasil ainda tem muita soja derramada nas rodovias por péssimo estado da grande maioria delas. Do total colhido, segundo o estudo, 1% fica perdido no chão. Derramamos nos buracos R$ 750 milhões da soja colhida no trajeto curto ou no mais longo, que precisa passar pelas mesmas rodovias que passamos no “Caminhos da Produção” de 2005. A soja do Mato Grosso, hoje, roda o Estado e 90% sai via férrea do Alto Araguaia para Santos. No asfalto, anda pouco e perde muito.

A própria Confederação Nacional de Transportes calculou recentemente R$ 14 bilhões de prejuízo decorrente de estradas em más condições. Números que envolvem acidentes de toda sorte e com todo tipo de veículo. No caso da soja, do milho, dos grãos, é a nossa economia que está nos buracos. Mas não precisava. Dá pra reduzir esse prejuízo.

Em foco

- Ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento) avisou que o governo prepara anúncio de pacote de medidas que beneficiarão a produção de etanol no Brasil. Estudo é elaborado há um ano pelos Ministérios das Minas e Energia e da Fazenda. Pacote terá contrapartidas exigidas ao setor produtivo em troca de uma desoneração tributária, tão em moda no País. Notícia veio logo após estudo da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) alertando para risco de falta de combustível por causa de diversos fatores. E também logo após a publicação do artigo “Cana pra que te quero”, neste espaço, em 11 de fevereiro.

- Importante Dia de Campo acontece sexta (22 de fevereiro) na Fazenda Modelo, em Ribas do Rio Pardo/MS, mais perto de Bataguassu que de Ribas. Conceituados técnicos de diversos órgãos de pesquisa compõem o elenco de palestrantes que falarão sobre integração lavoura-pecuária-floresta em solos de areia quatzosa. Quem for da região, imperdível. Quem não, mostraremos detalhes na programação do Canal do Boi. Informações: modelodois@terra.com.br ou pelos telefones (067) 3499-1588 / 1047. Saiba mais da programação do evento aqui.

- Criadores de Gir Leiteiro no Brasil estão alvoroçados com a possibilidade de uma grande exportação de genética na forma de sêmen (convencional e sexado) e de embriões efetivados para a Índia. O plano lá é aumentar volume e qualidade do leite com a raça originária na própria Índia, mas que tem hoje um banco genético defasado em virtude das cruzas com raças européias. O resgate da origem zebuína será feito aqui, depois de estabelecidos os protocolos sanitários entre os dois governos. Assunto para a próxima semana. Até lá.

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