Pessoas com autismo podem trabalhar em qualquer área, inclusive agronegócio
por Gabriela Borsari
Dia 2 de abril é o dia de Conscientização do Autismo, essa data foi criada no fim de 2007 pela ONU- Organização das Nações Unidas, iniciando a campanha em 2 de abril de 2008. Desde então, anualmente o mundo todo se ilumina de azul pelo autismo. O objetivo é, anualmente, conscientizar a sociedade a respeito desta complexa síndrome, para que aja mais suspeita, mais diagnóstico, mais tratamento, mais respeito e menos preconceito. Para isso iluminam-se de azul prédios e monumentos ao redor do mundo. O azul foi a cor designada para o autismo, por ter uma prevalência bem maior em meninos que em meninas — mais de 4 para 1.
O autismo é uma síndrome que afeta o desenvolvimento em três importantes áreas: comunicação, socialização e comportamento. No mundo a OMS (Organização Mundial da Saúde) estima que tenhamos 70 milhões de pessoas com autismo. No Brasil, a estimativa é de 2 milhões de autistas.
Mas você deve estar pensando. O que o agronegócio tem a ver com isso? Muito mais do que você pode imaginar. O meio rural pode ser muito bom para as pessoas que têm essa síndrome. O contato com os animais pode ser uma terapia interessante. Uma grande pesquisadora, referência na pecuária mundial, é autista.
Temple Grandin é um exemplo, uma fonte de inspiração para inúmeras famílias e profissionais ao redor do mundo. Atualmente ela é a mais bem sucedida e célebre profissional norte-americana com autismo, altamente respeitada no segmento de manejo pecuário. A doutora se tornou uma proeminente autora e palestrante sobre o tema autismo, porque ela é uma prova viva de que as características de autismo podem ser modificadas e controladas, podendo ter uma vida em sociedade, uma carreira bem sucedida.
Com um currículo invejável, ela já escreveu mais de 400 artigos publicados em revistas científicas e periódicos especializados e livros na área.
A sua história é tão inspiradora que se tornou filme e mostra sua trajetória durante a adolescência e o início da sua carreira.
Temple Grandin descobre a sua vocação quando a sua mãe a leva para fazenda de uma tia, com o intuito de integrar a jovem com o campo, animais e consequentemente, um alívio aos pontos negativos que o autismo trazia para ela na cidade. Na fazenda, ela começa a observar o modo como os trabalhadores lidam com a criação do gado que existe na fazenda: desde a alimentação até o abate.
“Na escola eu era motivo constante de chacota e vivia triste. O único refúgio longe das provocações eram atividades práticas como passeios a cavalo e o laboratório de eletrônica, me sentia mais a vontade nessas atividades, pois as crianças que as praticavam não me importunavam. Minha mãe foi capaz de me ensinar a cumprir horários e ter boas maneiras, mas ela não foi capaz de me obrigar a estudar. Não me senti motivada a estudar até ter uma razão para isso. Existiam certas matérias em que ganhava nota máxima, como em biologia; e outros assuntos como inglês e história nos quais eu não tinha interesse”, conta Temple.
A veterinária conta que seu professor de ciências foi peça-chave para motivá-la a estudar. “Depois de retornar da fazenda dos meus tios, fiquei fascinada pelo tronco de gado. O tronco é um mecanismo para conter e imobilizar os animais para vacinação. Consiste num compartimento de metal com painéis que comprimem o animal de ambos os lados do corpo. Ao observar o gado passando pelo tronco, notei que, algumas vezes, os animais relaxavam quando a pressão dos painéis laterais era aplicada sobre seus corpos. Sofrendo constantes ataques de pânico, resolvi experimentar o aparelho de pressão. Descobri que a compressão aplicada pelo tronco aliviava minha ansiedade e o meu nervosismo. Infelizmente, muitos dos meus terapeutas e médicos consideraram estranho usar um tronco de gado. Depois que construí um aparelho de pressão semelhante ao tronco para me acalmar todos quiseram tirá-lo de mim. Imediatamente me fixei nisso e fiquei motivada a provar que o efeito relaxante era real, assim comecei minhas pesquisas”.
Ela ainda destaca que para contribuir com a inclusão, precisamos mostrar o que pessoas com autismo são realmente boas em fazer. Uma habilidade é a memória incrível. Muitos indivíduos do espectro autista seriam bons em lojas do varejo ou em armazéns, porque eles podem se lembrar e ter informações de todos os produtos. Essas habilidades podem ser aproveitadas em todas as áreas, inclusive no agronegócio.
“As pessoas com autismo contribuem para um mundo melhor porque pessoas na porção superior do espectro do autismo inventaram muito em tecnologia e nas artes. Eu estimo que metade das pessoas na indústria de computadores tem autismo moderado. Eles são menos sociáveis, mas ganham na habilidade do pensamento. O autismo é um traço contínuo que varia entre Einstein e baixa funcionalidade, a genética é um fator preponderante na causa do autismo”, declara Temple.