O avestruz, Struthio camelus, é um animal herbívoro (onívoro na natureza), monogástrico e de estômago simples. É um animal de atividade diurna, criado em grupos quando jovens e para abate e em trios ou casais quando adultos reprodutores, podendo atingir até 2,5 metros de altura e 150 kg de peso vivo. O macho possui plumagem preta, pontas das asas e rabo com plumas brancas apresentando maturidade sexual aos 36 meses, aproximadamente, e a fêmea é toda acinzentada com maturidade sexual aos 24 meses em média. A época de reprodução varia entre 6 a 8 meses, com média de produção de 50 ovos por fêmea/ ano e 15 filhotes viáveis depois dos 3 meses de idade por fêmea/ano. Ao abate, os avestruzes devem ter o peso ao redor de 100 kg de peso vivo, apresentando 50 % de rendimento de carcaça, proporcionando em média 35 kg de carne, 1 kg de plumas e 6 kg de miúdos. A carne de avestruz é uma carne vermelha, macia, é uma excelente fonte de ferro, ômega 3, ômega 6, ômega 9, é menos calórica comparada às carnes de outras espécies e contêm baixos índices de colesterol e gorduras. O nome dado à atividade de criação racional de avestruzes é Estrutiocultura.

Entre as raças de avestruzes no meio comercial, o atual híbrido "African Black" (figura 1) é o mais difundido pela docilidade, por ter menor porte, produção de uma grande quantidade de plumas de boa qualidade e maior área de pele (para produção do couro), em relação ao "Red Neck" e "Blue Black".

Figura 1- Avestruz macho African Black

O avestruz é considerado um animal doméstico e de produção zootécnica comercial pela Portaria Nº 36 de 15 de março de 2002 do Instituto Brasileiro do Meio ambiente e de Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), sendo a criação desde então, regulamentada e fiscalizada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), pela Instrução Normativa Conjunta Nº 2 de 21 de fevereiro de 2003 e pelo Programa Nacional de Sanidade Avícola (PNSA). Neste aspecto, todo estabelecimento de criação comercial de avestruzes deve atender as Instruções Normativas, Portarias e protocolos sanitários que norteiam tal criação zootécnica.

 A Estrutiocultura, como exploração comercial, data de longos tempos na África, do qual só se aproveitavam as plumas (figura 2), utilizadas como adornos, obtidas de populações silvestres de avestruzes. Após as 1ª e 2ª Guerras Mundiais, houve um colapso no mercado de plumas. Em razão desse fato houve também um declínio do número de avestruzes selvagens e os fazendeiros sul africanos começaram a explorar outros produtos: a carne e o couro, iniciando um programa de domesticação e criação desses animais. Em poucas décadas, a Estrutiocultura se expandiu para a América do Norte, América do Sul, Brasil, Europa, Austrália e Estados Unidos.

Figura 2- Plumas de avestruz tingidas

Um dos fatores que permitiu que a criação de avestruzes se expandisse pelo mundo foi a modificação política com a queda do monopólio da produção na África do Sul, maior produtor mundial de avestruzes (Anuário da Estrutiocultura - 2005/06 - ACAB). Atualmente, 90% das populações selvagens de avestruzes habitam a África em algumas regiões abaixo da linha do Equador, sendo encontradas em parques e em reservas naturais. A Estrutiocultura foi introduzida no Brasil na década de 90, quando começaram as primeiras importações de aves vindas principalmente dos Estados Unidos e Espanha.

Assim como nos EUA, o Brasil sofreu um "boom" típico da fase de implantação do agronegócio e atualmente, apesar da demanda do mercado internacional por carne, plumas e couro, a taxa de crescimento anual do rebanho de avestruz, ainda em crescimento, teve uma sensível queda pela saturação do mercado de aves vivas, sinalizando a entrada definitiva no mercado de abate e da industrialização dos produtos do avestruz no Brasil (Anuário da Estrutiocultura 2006/07 ACAB).

Por favorecimento de seu clima e solo, o Brasil é considerado um dos países de maior potencial para o crescimento da Estrutiocultura, pois os avestruzes têm-se adaptado muito bem nas condições climáticas encontradas nas diferentes regiões, principalmente, no Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste.

O Brasil é o segundo maior produtor de avestruzes a nível mundial, ficando atrás apenas da África do Sul, país de onde o avestruz é originário.

Na criação de avestruzes, as diversas fases existentes possuem taxas de risco variáveis e algumas acabam se constituindo como barreiras para alcançar índices satisfatórios de produtividade. E preciso, sempre, reservar uma atenção para os limites produtivos, em que situações multifatoriais podem levar ao insucesso, desde que não se observem as precauções necessárias, do ponto de vista de manejo, qualidade do rebanho formador, instalações, cuidados sanitários, biosseguridade, conhecimentos das principais doenças que acometem essa espécie e as medidas de prevenção, tratamento e profilaxia referente às mesmas, exigências nutricionais, identificação apropriada, transporte de animais, abate, industrialização e comercialização de produtos, para que todo o potencial da criação possa se evidenciar.

Algumas ações administrativas também devem ser articuladas como: rastreabilidade, biosseguridade, sustentabilidade e o aprimoramento da gestão na estrutiocultura.

A rastreabilidade irá garantir ao criador a redução da consanguinidade do rebanho e seleção de matrizes de boa genética, com auxílio de programas de melhoramento genético, que consiste em identificar e acompanhar cada animal de um rebanho, desde o nascimento até seu abate, e representa a garantia de origem e qualidade, agregando valor ao produto e satisfazendo as necessidades do consumidor final.

Um bom programa de biosseguridade reduz a incidência de doenças que causam grandes perdas econômicas, devido principalmente à mortalidade de animais debilitados, redução de ganho de peso e baixa conversão alimentar, bem como gastos com medicamentos e irá garantir ao rebanho proteção contra patógenos e melhor produtividade.

A sustentabilidade abrange vários níveis de organização, desde a interna à externa. Para ser sustentável, um empreendimento, necessita atender a alguns requisitos básicos como ser ecologicamente correto; economicamente viável e socialmente justo, além de culturalmente aceito.

A gestão racional, além dos fatores já citados anteriormente, consiste na implantação de um sistema eficiente e informatizado facilitando a centralização dos dados do rebanho, assim como de todos os setores que envolvem a criação. A gestão exige um planejamento e treinamento do criador, dos especialistas e funcionários envolvidos em busca da otimização da produção com um menor custo possível, sem comprometer a qualidade do produto final.

O interesse pela Estrutiocultura nasceu e está emergindo sobre uma crescente procura por produtos de alta qualidade nutricional e de maior valor agregado, produção com qualidade e agro sustentabilidade, além de ser uma boa alternativa de investimento, em especial quando comparada a outras atividades agropecuárias. 

 

Rafael Achilles Marcelino - Universidade Federal de Lavras – 3rlab

 



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