(*) por Thadeu Silva

Após explorar, na última semana, a perspectiva para a relação de preços entre ureia, principal fertilizante nitrogenado, e o preço do milho, cultura que demanda a maior quantidade de nitrogenados no mundo, nessa semana será feito um aprofundamento da questão relacionando os preços entre os insumos e produtos da cadeia de nitrogenados para entendermos até que ponto a cotação da ureia vai acompanhar os preços internacionais do milho.

Em resumo, nosso objetivo é responder a questão determinante para a indústria de fertilizantes e produtores agrícolas: qual será a relação entre o preço do milho e da ureia nas próximas safra americana e safrinha brasileira?

Por simplificação, podem ser definidas duas variáveis que determinam o preço da ureia em dado momento:

1) Preço dos produtos agrícolas – quanto maior for o preço dos produtos que vão utilizar ureia como insumo, maior é o poder de compra do produtor. Além disso, maior tende a ser produção agrícola e a demanda por ureia.

2) Preço dos insumos – o insumo básico para a produção de ureia é amônia, por sua vez, a amônia é derivada do gás natural. Quanto maior for o preço dos insumos maior será o preço da ureia.

Em relação ao primeiro ponto, há uma forte relação entre o preço do milho e da ureia granulada. Entre 2010 e 2014 foi registrada uma correlação de 71% entre cotação do Milho CBOT e da Ureia Granulada do Egito. Entretanto, esse ano os dois produtos têm apresentado trajetórias mais independentes, registrando uma correlação de 35% até o momento.

No gráfico abaixo é possível ver a evolução dos preços do gás natural, amônia e ureia. A ureia e a amônia, ambas negociadas na praça do Golfo Americano, apresentam uma relação direta média, com correlação de 45,2% ao longo do período analisado no gráfico. A amônia tem muitas aplicações, entre elas a produção de fertilizantes. Enquanto a ureia é em quase sua totalidade utilizada em atividades agrícolas, por isso seria de se esperar uma correlação não tão forte entre as duas séries de preços, mas positiva.

evolução dos preços do gás natural, amônia e ureia
Gráfico: evolução dos preços do gás natural, amônia e ureia. Clique na imagem para ampliar.

Em relação ao gás natural, a relação é muito mais sutil, com correlação de 23,1% em relação à ureia. O gás natural responde à evolução dos preços no setor de energia e acaba influenciando os preços dos fertilizantes nitrogenados muito mais como um fator limitante de quedas e alta de preços. Por exemplo, no segundo semestre de 2012 a forte alta do preço do milho foi acompanhada por uma estabilidade no preço da amônia em razão da queda do preço do gás natural. Já no segundo semestre de 2013, a queda do preço do milho foi seguido por uma leve contração no preço da ureia em razão de um pico na cotação do gás natural. Em ambos os casos, o preço do gás ‘descolou’ um pouco a relação entre a ureia e o milho, mas não foi capaz de modificar o ciclo de preços do fertilizante.

Portanto, retiramos da análise que o preço do milho é o fator mais importante na determinação do preço da ureia, mas existe uma limitação dessa relação dada pelo custo de produção da ureia. Dessa forma, o preço da ureia acompanha o do milho em um movimento baixista até encontrar um limitante dado pelo custo de produção. No pós-crise, ano de 2009, a ureia granulada Egito ficou alguns meses ao redor de US$270-80/tonelada, enquanto o milho apresentava cotações entre US$3,10-3,50/bushel. Atualmente, o milho Chicago apresenta preços à casa dos US$ 3,50-3,60/bushel, mas a ureia Egito enfrenta limitações para ceder da atual patamar de US$ 350/ton dado que o preço do gás natural está 61% acima da média pós-crise.

Esse desdobramento é muito importante para o atual momento em que o preço do milho está na cotação mais baixa desde o pós-crise e o limite dado pelo custo de produção da ureia tende a impedir que o preço do fertilizante acompanhe a queda em sua totalidade. O principal resultado esperado dessa equação é a redução na aplicação de nitrogenados na próxima safra americana, seja pela redução da área plantada ou pela menor utilização de fertilizante por área. Na prática, os dois efeitos devem ser esperados.

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(*) Thadeu Silva é Diretor de Inteligência de Mercado da consultoria INTL FCStone.

Foto: Arquivo/APPA



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