(*) Leandro Cazelli Alencar

A preocupação com o uso de medicamentos veterinários nos animais de produção cujos resíduos podem resultar risco à saúde pública levam toda cadeia produtiva a ter uma atenção maior nesta etapa, principalmente o consumidor.

Quando é realizada a aplicação de qualquer medicamento veterinário em um animal, seja um vermífugo, por exemplo, e não é respeitado o período de carência (período compreendido da aplicação do medicamento até a eliminação do mesmo) e se esse mesmo animal é destinado ao abate ou se o leite é utilizado para o consumo humano, esses alimentos terão resíduos de medicamentos veterinários.

Isso pode gerar grandes impactos em toda a cadeia produtiva da carne bovina ou do leite, desde impactos econômicos, como embargos para mercados e penalizações para os pecuaristas como também impactos de saúde pública, como os possíveis danos a saúde humana quando são alimentados com carne ou leite contendo resíduos de medicamentos veterinários.

Sabe-se que atualmente há um maior controle sobre esses resíduos através do Programa Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes (PNCRC), que é um programa do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA). Este programa confere uma garantia da inocuidade de grande parcela dos alimentos ofertada ao consumo (origem animal e vegetal) quanto à presença de resíduos decorrentes do emprego de drogas veterinárias, agroquímicos e contaminantes ambientais.

As últimas semanas foram turbulentas quando se refere ao assunto de resíduos de medicamentos veterinários. No dia 30/05/2014, o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento publicou no Diário Oficial da União, por meio da Instrução Normativa n° 13, a proibição da produção, manipulação, fracionamento, comercialização e utilização dos vermífugos com o princípio ativo à base de avermectinas de longa ação (que possuem atividade parasitária superior a 42 dias).

Sem dúvida que tal medida afeta o lucro dos laboratórios farmacêuticos veterinários, como vem sendo tão divulgado. Porém, em contrapartida, afeta também o compromisso do protagonista na produção de proteína vermelha, o pecuarista, pois se sabe da grande importância do medicamento em programas preventivos e estratégicos de controle de parasitas internos e externos dos bovinos.

Os vermífugos à base de avermectina são medicamentos antiparasitários internos (parasitas) e externos (carrapatos), sendo indicados para ser utilizado no controle e tratamento de vermes (intestinais e pulmonares), berne, piolho, carrapatos, ácaros produtores de sarna, entre outros. Resumindo: é imprescindível a verfumigação no rebanho durante sua vida.

A proibição se deu por uma queixa do governo dos EUA, que é um importador de carnes industrializadas (enlatadas). Eles solicitaram a redução dos critérios de aceitação de resíduos deste medicamento na carne e, embora pudesse ter tomado outras decisões, o MAPA assumiu o compromisso de não mais utilizar esse produto. Uma medida cabível é a própria fiscalização e orientação sobre a utilização desses produtos.

Para cada etapa de produção (cria, recria e engorda) é indicado um vermífugo que atenda aos requisitos de cada fase. Sem dúvida, as atividades de cria e recria serão as mais prejudicadas com esta normativa, pois são as fases que esses vermífugos são mais utilizados.

Pecuarista, a sua decisão de usar de forma responsável os produtos veterinários é fundamental para reduzirmos os riscos à saúde dos animais, à saúde pública e ao meio ambiente. Assim, teremos animais saudáveis e efetivamente uma carne de qualidade apta para o consumo humano.

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(*) Leandro Cazelli Alencar é médico veterinário e atua com pecuária de corte e leite na República do Congo, África.



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