José Luiz Alves Neto / Rural Centro

O brasileiro é um grande apreciador da carne bovina, tanto que consome 40 quilos por ano do produto. Para ajudar o pecuarista a atender uma demanda como essa, a capital São Paulo recebe nesta semana, de 17 a 21 de junho, a maior feira indoor da cadeia produtiva da carne mundial, a Feicorte 2013. No Brasil, quase todo o gado destinado à produção de carne é criado em pastagens, sistema identificado como pecuária extensiva. Mesmo que apenas 10% das 40 milhões de cabeças abatidas anualmente no país sejam engordadas em confinamento, elas passam a maior parte da vida – fases de cria (bezerro) e recria (quando se transforma em boi magro) - nas extensas planícies brasileiras. Por isso, é necessário um grande aliado para vencer as distâncias e reunir os animais para os tratos diários e para o embarque ao frigorífico: a tropa da fazenda.

Cada fazenda escolhe a sua do jeito que lhe convém: as mais variadas raças de cavalos, como Quarto-de-milha, Crioulo, Pantaneiro, Árabe e Mangalarga e também os muares, animais resultados do cruzamento de asininos, como os Jumentos, e éguas de diversas raças: são os Burros e as Mulas.

Pecuarista há 25 anos, o agrônomo Moacyr Fregonesi Barbosa tem propriedade no interior do Mato Grosso, em Novo São Joaquim, distante 500 km da capital Cuiabá. Na fazenda, em que trabalha com todas as fases da pecuária (cria, recria e engorda), Moacyr utiliza tropa mista de cavalos Quartos-de-milha e muares. Ele mesmo é quem faz os cruzamentos das éguas da raça Mangalarga e Campolina com Jumentos Pêga. “Em termos de resistência, não tem como o muar. E quando você acasala o Jumento com uma égua boa, que tem um andamento marchador, aí não tem igual. Você une resistência, andamento e conforto”, aprova Fregonesi.

Quem fornece os jumentos Pêga para Moacyr é o criador Herman Martin, que busca essa união entre resistência, característica premente dos asininos, com a explosão dos equinos. “Nós temos um país continental e tropical. Quanto mais próximo você chegar à Linha do Equador, a temperatura aumenta e os dias ficam mais longos e mais quentes. Como o jumento é oriundo do norte do continente africano, ele tem a resistência necessária para se submeter a essa situação e aguentar o trabalho”, recomenda Martin. Há 15 anos o criador trabalha no aperfeiçoamento da tropa de Burros e Mulas da Cabanha Campeãs da Gameleira, em Itapetininga, São Paulo, a 180 km da capital paulista.

À parte a Região Nordeste, que não utiliza tropa por ter menos cavaleiros (por lá, o passatempo predileto é o mar) e não tem tradição em bovinocultura de corte, Herman embarca seus animais para todo o país. Em uma carga fechada de 20 animais para formação de tropa de trabalho, cada muar custa entre R$ 1,5 mil e R$ 3 mil. Comprados isoladamente, o animal custa entre R$ 3 mil e R$ 5 mil. Já para cavalgadas, aberturas de rodeio e para montaria em geral, os muares são comprados por algo entre R$ 6 mil e R$ 20 mil. Os mais valiosos são as mulas de provas de marcha, custando a partir de R$ 20 mil sem valor de limite. O próprio Herman Martin já vendeu uma mula de pista por R$ 145 mil para um criador de Brasília, mas já teve notícias de mulas valendo R$ 250 mil. Neste caso, o investimento pode até retornar na forma de premiação. É que mulas como essas podem concorrer a carros e dinheiro caso se saiam bem em suas apresentações nos torneios em que participam.

Para preparar os animais para os diferentes tipos de trabalho ou apresentações, existem até centros de treinamento, como o de Frederico Magalhães, localizado em Betim, Minas Gerais, cidade próxima a Belo Horizonte. Lá, os Burros e as Mulas são preparados para aliar a resistência com a explosão em busca do animal perfeito. O treino é feito seis dias por semana: em dois dias são feitas as marchas (resistência); em quatro, exercícios de passo (explosão muscular). Magalhães admira tanto os animais que até afirma que se o chamarem de burro ou de mula, toma como um elogio. “É um animal extremamente inteligente”, explica.

Tão inteligente que exige respeito para respeitar seu montador. “O cavalo, se um dia for maltratado, ele não esquece, mas te perdoa. Já o Burro e a Mula não esquecem e não perdoam. Eles exigem um convívio em harmonia para te tratar com respeito”, compara Martin. No fim, o esforço para adquirir um animal deste vale a pena. Afinal, não é à toa que os fazendeiros preferem as notórias "mulas de patrão".

+ História da raça: Jumento Pêga

Leia as últimas notícias sobre a feira na Rural Centro

Foto: Divulgação / Campeãs da Gameleira



Nosso site possui algumas políticas de privacidade. Tudo para tornar sua experiência a mais agradável possível. Para entender quais são, clique em POLÍTICA DE PRIVACIDADE. Ao clicar em Eu concordo, você aceita as nossas políticas de privacidades.