Soja grão para bois em confinamento
(*) por Marcelo Hentz Ramos
A busca pela utilização de alimentos “não tradicionais” para serem fornecidos para bovinos em confinamento é crescente. Dentre estes alimentos podemos citar a soja grão. Esta oleaginosa possui alta quantidade de proteína (40% PB) e gordura (20% EE). Entretanto, antes da utilização destes alimentos nutricionistas precisam entender o que experimentos realizados em universidades têm encontrado com a utilização destes produtos.
Pesquisadores da UNESP, UFV e EMBRAPA realizaram um experimento utilizando novilhos nelores castrados. Animais foram confinados durante 78 dias e receberam as dietas descritas na tabela 1. Metade da dieta fornecida continha silagem de milho, com quantidades crescentes de soja grão (0%, 12% e 23%), quantidades estas que resultaram em dietas com 2%, 4% e 6% de gordura, respectivamente.
Tabela 1 – Ingredientes e composição bromatológicas das dietas utilizadas no experimento
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0 |
12 |
23 |
Ingredientes, % da MS |
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Silagem de milho |
50 |
50 |
50 |
Polpa cítrica |
28 |
26 |
24 |
Soja grão |
0 |
12 |
23 |
Farelo de soja |
19 |
9 |
0 |
Mineral |
3 |
3 |
3 |
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Composição química, % da MS |
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MS |
64 |
64 |
64 |
PB |
14,9 |
14,6 |
14,3 |
EE |
1,9 |
4,2 |
6,3 |
FDN |
33,5 |
33,2 |
32,9 |
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*0, 12 e 23% correspondem aos tratamentos contendo as respectivas porcentagens de grãos de soja.
Com a adição da soja grão houve um decréscimo no consumo de matéria seca (CMS) e de proteína bruta. Não houve diferença entre o peso final e o ganho de peso diário (GPD) entre os tratamentos (Tabela 2). Uma variável de extrema importância para os confinadores é a eficiência alimentar (kg de peso corporal/kg de CMS). Neste experimento, com adição de soja grão, também não foi observado diferença entre os tratamentos. Em adição rendimento de carcaça (RC) dos animais também não diferiu entre os tratamentos. Muito importante é o fato de que os pesquisadores não encontraram qualquer alteração na carcaça dos animais participantes do experimento.
Tabela 2 – Ingredientes e composição bromatológicas das dietas utilizadas no experimento
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0 |
12 |
23 |
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CMS, kg/d |
11,0 |
10,4 |
10,4 |
PCI, kg |
382 |
369 |
359 |
PCF, kg |
492 |
477 |
469 |
GPD, kg/d |
1,40 |
1,38 |
1,41 |
EF, kg PC/kg CMS |
0,13 |
0,13 |
0,13 |
RC, kg/100 kg PC |
53,2 |
53,2 |
52,6 |
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CMS = consumo de matéria seca, PCI = peso corporal inicial, PCF = peso corporal final, GPD = ganho de peso diário, EF = eficiência alimentar, RC = rendimento de carcaça.
Fica muito claro que a utilização de soja grão pode ser uma excelente alternativa no confinamento. É um alimento que não precisa ser processado e pode ser adicionado diretamente na dieta dos animais. Hoje, com a presença dos grandes confinamentos próximos das grandes fazendas produtoras de soja, a utilização deste grão pode ser uma alternativa muito interessante.
Para os nutricionistas, estes devem esperar uma queda (ao redor de 0,5 kg) no CMS quando o EE da dieta estiver ao redor de 6% (talvez uma melhora na eficiência alimentar também possa acontecer). Mas meio quilo de queda de consumo é importante? Sim, pois o nutricionista precisa ajustar a porcentagem de PB e minerais para satisfazer as exigências dos animais. Certamente um ponto de extrema importância é também ajustar a porcentagem de amônia disponível para síntese microbiana.
Concluímos que dietas com adição de 23% de soja grão é capaz de produzir ganhos de 1,4 kg com rendimento de carcaça de 53% e 7 mm de gordura subcutânea, portanto a utilização deste grão é uma alternativa disponível para ser utilizada nos confinamentos brasileiros sem qualquer detrimento ao desempenho animal.
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(*) Marcelo Hentz Ramos é PhD e diretor do 3rlab