(*) por Renato dos Santos

A aprovação pelo Senado no final do mês de setembro do Projeto de Lei da Câmara (PLC) 83/2011, que reconhece e regulamenta a profissão de vaqueiro, deve ser encarada como um importante marco na profissionalização e valorização desse trabalhador do campo.

A proposição segue agora para a sanção presidencial e define o vaqueiro como profissional responsável pelo trato, manejo e condução de animais como bois, búfalos, cavalos, mulas, cabras e ovelhas. O projeto estabelece que a contratação dos serviços de vaqueiro é de responsabilidade do administrador – proprietário ou não – do estabelecimento agropecuário de exploração de animais de grande e médio porte, de pecuária de leite, de corte e de criação.

Mais do que uma conquista de direitos, a aprovação da nova lei reconhece a importância desse profissional na cadeia produtiva da carne, algo que muita gente não consegue enxergar. O vaqueiro é uma figura fundamental para o manejo racional da fazenda, que se reflete na qualidade da carne que será oferecida ao consumidor.

Um estudo do Grupo ETCO (Unesp – Jaboticabal, SP) observou-se que 39,61% das lesões nas carcaças que chegam ao frigorífico ocorreram durante o manejo na fazenda. Isso mostra que o manejo do gado brasileiro ainda rouba carne da balança, uma vez que cada hematoma retira 500g de carne e o estresse endurece a carne. Ao invés de bonificação, o produtor rural recebe menos do que esperava.

E quem está no dia a dia com os animais na fazenda e faz o manejo? O vaqueiro! Muitas vezes, a lida mais se parece uma luta entre homem e animal do que efetivamente um manejo.

Como conseguir o comprometimento do vaqueiro com o bem-estar animal e o manejo racional?

Reconhecer a importância e o valor do seu trabalho é o primeiro passo, que deve ser seguido pela capacitação e profissionalização da equipe de trabalho. O “eu” deve ser substituído pelo “nós” e é preciso entender que equipe é diferente de grupo.

O Decreto-Lei n.º 64/2000, de 22 de Abril, define que o proprietário ou detentor dos animais deve tomar todas as medidas necessárias para assegurar o bem-estar dos animais ao seu cuidado, e para garantir que não lhes seja causado dores, lesões ou sofrimentos desnecessários. Isso inclui responsabilizar os seus funcionários pela aplicação das normas de bem-estar animal na exploração e proporcionar-lhes a formação adequada para o efeito. Os responsáveis pela gestão da exploração devem assegurar-se de que os animais são cuidados por pessoal em número suficiente, devidamente motivado e competente. Este pessoal necessita ter conhecimentos adequados, quer através de formação, quer da experiência adquirida.

Os tratadores deverão ser conhecedores e competentes, com grande domínio de técnicas de saúde e bem-estar animal. Isso depende da inspeção regular dos animais. Todos os tratadores deverão estar familiarizados com o comportamento normal dos animais e despistar qualquer sinal de sofrimento ou doença.

Para tal, é importante que os tratadores tenham tempo suficiente para inspecionar os animais, verificar equipamentos e resolver qualquer problema que possa surgir inesperadamente.

Os bovinos devem ser movidos pelo seu próprio passo, sem serem apressados pelo seu tratador e sem a utilização de outros meios. Devem ser incitados com cuidado, especialmente em curvas e solos escorregadios. Deve-ser evitado o barulho, excitação ou força. Não deve-se exercer pressão, em qualquer zona particularmente sensível do corpo (como a cabeça, o úbere ou testículos), nem ser exercida violência sobre os animais. Tudo o que se utilizar para guiar os animais deverá ser concebido e utilizado apenas para esse fim e não poderá ter pontas afiadas ou pontiagudas.

Como conseguir que os vaqueiros ajam dessa forma? Sempre digo que a única diferença entre dois seres humanos é o CONHECIMENTO.

Há vários anos tenho rodado as fazendas do Brasil oferecendo treinamento e capacitação para esse público. Percebo que quando entendem o significado do seu trabalho e absorvem o conhecimento, eles se tornam os maiores aliados para a produção de carne de qualidade.

Os peões devem ser reconhecidos como a mola mestra da cadeia produtiva da carne, aqueles que podem realmente fazer a qualidade da matéria-prima carne ser melhor.

Atualização em 18/10 ás 18h:
A  Lei 12.870, que reconhece a atividade profissional de vaqueiro, sancionada pela presidenta Dilma Rousseff no dia 15 de outubro e publicada no dia 16/10 no Diário Oficial da União. Pela lei, é considerado vaqueiro o profissional que trabalha em atividades relacionadas ao trato, manejo e condução de animais como bois, búfalos, cavalos, mulas, cabras e ovelhas.


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(*) Renato dos Santos é médico veterinário e responsável pela área de Manejo Racional da Beckhauser.



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