Entrevista exclusiva: cooperativa de pecuaristas busca comercializar 5 mil cabeças de gado ao ano
29 Dec 2010
Representante da classe de produtores desde 2007, quando assumiu a presidência do Sindicato Rural de Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, José Lemos Monteiro buscou, em 2010, novos desafios. Em março deste ano, foi nomeado presidente da Comissão de Pecuária de Corte da Federação da Agricultura e Pecuária de MS.
Além disso, Monteiro, conhecido como Zé Ito, está organizando para o primeiro semestre de 2011 uma cooperativa de pecuaristas para comercialização direta de carne para o consumidor. Cada associado terá que vender à organização 200 cabeças por ano, espaçadas em 70 dias.
“Nós não queremos começar grandes. Vamos começar pequenos e esse tamanho, por incrível que pareça, irá gerar cinco mil cabeças por ano”, ressalta Zé Ito. A venda acontecerá, a princípio, em duas casas de carnes próprias da cooperativa.
Veja abaixo a entrevista na íntegra com José Lemos Monteiro.
Como começou a sua história como representante de produtores rurais?
Dois amigos, que eu não sei se são amigos reais ou amigos da onça (risos), um dia chegaram pra mim e falaram: “Zé Ito, você precisa pegar o Sindicato Rural de Campo Grande”. Eu estava com os três filhos formados em agronomia e me afastei da administração direta das fazendas quando eles começaram a tocar os negócios. Então eu me desliguei do dia-a-dia das propriedades e tive mais tempo para assumir uma responsabilidade como a do sindicato. Daí pra frente, eu gostei do sistema sindical e cheguei à conclusão que a gente tem que fazer muito da porteira para dentro, mas temos que pensar muito da porteira para fora. E o sindicalismo é um apoio e tanto para as políticas e os interesses que a gente tem da porteira para fora.
Quando ocorreu isso?
Começou em 2005, mas eu assumi o Sindicato Rural de Campo Grande em março de 2007 e meu mandato foi até 2010.
A cooperativa de carnes surgiu por uma observação de mercado ou por uma necessidade de gestão interna das propriedades?
Pelas duas coisas. Primeiro, nós queremos dar condição para o produtor rural obter maior renda. Segundo, a política hoje que o BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento) tem feito em relação às indústrias frigoríficas tem favorecido apenas grandes grupos. Com isso, nós tivemos grandes fusões e ficamos limitados para vender o nosso produto. A cooperativa chega numa hora muito interessante nesse sentido.
Qual a diferença entre essa cooperativa e a Novilho Precoce MS, por exemplo?
A Novilho Precoce tem um foco diferente do nosso. Ela quer fazer aliança mercadológica e arrumar parceiros para isso. A comercialização não passa por eles. Nós queremos ter essa comercialização.
O pecuarista raramente se preocupa com seu produto após a engorda do boi. Como acontecerá essa transição?
O ano de 2009 foi muito marcante para nós. Novembro normalmente é um mês muito importante para os pecuaristas, porque é quando acontece o pico de preço da arroba. Naquele ano, os grandes conglomerados das indústrias estavam tão poderosos que no mês onze nós vimos acontecer o pico de baixa do ano. Então, nós achamos, naquela data, que tínhamos que entrar e aprender a mexer com carne. O boi não é carne, o boi é transformado em carne. Então, para auferir melhor lucro e comissão para o produtor, nós temos que entrar no mercado de carne também.
Você acredita que seria possível aplicar este sistema se os pecuaristas não estivessem organizados em um grupo?
Eu acho que todo tipo de organização é muito importante. A organização é o mote de tudo. Nós temos que nos aglutinar e fazer a transformação dos nossos produtos, oferecendo a renda do mês.
Ferramentas de comercialização direta e gestão são relativamente novas. Por que isso ocorre agora?
Eu diria que 2009 foi um ano traumático, visto que o pico de baixo da arroba aconteceu em novembro. 2010 foi exatamente o contrário. Então, naquela data em 2009, nós falamos que era a hora de a gente pensar em arregaçar as mangas e fazer o que precisava ser feito. O marco foi novembro de 2009 com o pico de baixa da arroba no ano.
Fonte: José Luiz Alves Neto / Rede Rural Centro