30 Dec 2010

foto: divulgação/Novilho Precoce MS

 

Antigo presidente de Câmara Setorial de Bovinos e Bubalinos do Mato Grosso do Sul, o produtor Alexandre Scaff Raffi assumiu em setembro de 2010 a presidência da Associação dos Produtores de Novilho Precoce do estado. 

O desafio é dar sequência ao trabalho de gestão profissional e técnica das propriedades filiadas à Novilho Precoce MS. “Produção com tecnologia é tudo. Não é igual antigamente, que a arte era ficar quieto, sem gastar, que o boi ficava gordo em cinco anos e você ganhava dinheiro. Hoje tem escola, TV, custo, os funcionários ganham bem, impostos, energia, ITR. Não dá pra esperar cinco anos pra ganhar com o boi”, afirma Alexandre S. Raffi.

Em entrevista à Rede Rural Centro, o presidente da Associação falou sobre o fortalecimento das parcerias da entidade com o frigorífico JBS, com o Carrefour, rede francesa de supermercados, e os desafios para 2011 – conquistar mais associados, fidelizar os que já são cadastrados e afirmar a grife própria de carne Primo Corte em eventos como a Feicorte e o Congresso Internacional da Carne, cuja sede será a capital do MS. Confira a conversa.

A Novilho Precoce MS não foca no produto, e sim na gestão da propriedade?
A associação começou focada no produto. O Carrefour pediu um tipo de animal e queria em quantidade maior. Várias pessoas se juntaram para fornecer e isso foi crescendo. Juntamente, foram chegando pessoas que precisavam de um auxílio. Assim, os associados que já produziam viram que, se melhorassem, podiam ganhar mais. Quando você começa a conviver com pessoas que mostram que, quando você produz melhor, ganha mais, você volta pra sua fazenda e começa a fazer o que os outros estão fazendo. Desse jeito, a associação foi crescendo. Hoje, tem muitos conveniados que são mais fracos que os primeiros, porque estes já tinham o mercado pronto.

O que é o novilho precoce?
O novilho precoce é um animal abatido jovem, até J4, ou seja, com os últimos quatro dentes definitivos, o que significa que esse animal tem até três anos de idade. Ele tem que ter certo acabamento e peso também. No caso do macho, o animal acima de 15 arrobas com acabamento de, no mínimo, 2 a 3 milímetros de gordura e J4 é considerado novilho precoce. Isso é uma normatização do estado (Mato Grosso do Sul). No caso da fêmea, acima de 12 arrobas.

Dentro do novilho precoce, você pode ter animais mais precoces, até chegando ao super precoce, que é o bovino dente de leite, com até 18 meses de idade.

Qual a dificuldades em produzir este animal?
Toda propriedade tem o novilho precoce. A diferença é que nós aprendemos a achar esse animal dentro da fazenda. Tem pessoas que não veem isso, então elas abatem 80 bois e nunca fizeram questão de saber o que tinham na mão. De repente, você tem 30% de animais que têm uma conformação geneticamente melhor. Qualquer fazendeiro que olhar suas cabeças de 18 arrobas e notar as melhores, vai achar o animal precoce.

O procedimento é pegar um pecuarista que acredita que nunca vai servir pra Novilho Precoce e enviar um técnico para a propriedade verificar a boiada de engorda e dizer se ele tem condição de produzir novilho precoce ou não. Não precisa ser 100%. Eu mesmo tenho uma grande parte que vira tardio, mas a pessoa tem uma ideia de que, pra entrar na associação, é obrigada a produzir tudo. O nosso grande trunfo é maximizar o que você tem de bom e melhorar o que você tem de ruim. Se você tem uma coisa boa, nós vamos conseguir um plus no mercado, o que remunera mais. Se você tem deficiência em alguma coisa, a associação está indo lá pra lhe ajudar a chegar com maior competitividade.

Essas são as duas vertentes da associação. Uma é agregar valor no animal de qualidade. A segunda é melhorar o ganho do produtor ensinando, procurando as deficiências que ele tem e, através de parcerias com consultorias, como a Fundação MS, Instituto Terra e até mesmo troca de experiências entre os associados, melhorar o que você faz.

Como foi identificada a demanda do consumidor?
Não cabe a nós. Essa parceria nossa engloba uma rede varejista que faz essa parte. Apesar de que, hoje, nós estamos ajudando ela na difusão dessa grife. Tem a marca Selección, que é do Carrefour, e a gente embasa a produção dela. Nós vamos fazer um trabalho de degustação dentro da loja deles pra mostrar para o consumidor a qualidade que ela tem. A demanda quem nos dá é o próprio frigorífico ou a rede varejista.

Esse ano nós lançamos a nossa marca (Primo Corte), aí muda um pouco. Nós estamos correndo atrás, procuramos parceria com um frigorífico que já distribui carne no Brasil inteiro porque a gente sabe que tem esse outro lado da fazenda. Fora da porteira é mais complicado. Mas como a associação sempre foi muito bem nas parcerias que faz, pela transparência, amizade e seriedade do trabalho, nós vimos que o melhor que tínhamos a fazer, ao invés de tentar desenvolver sozinho o mercado, é trabalhar com alguém que já está lá.

Por que a associação tem que achar alguém que pague mais ao pecuarista?
Porque se ele para de pensar em dinheiro, só se preocupa em produzir. Na hora de vender, ele liga aqui para a associação e nós vamos saber o melhor preço, onde vai matar e acompanhar o boi dele. Essa fase ele passa. Eu não vou mais a frigorífico, não coto mais preço e não me preocupo mais com isso. Prefiro me dedicar à minha fazenda. Esses 2% a mais ou preço de boi em cima de novilha serve exatamente pra pessoa ficar tranquila, não precisar mais se preocupar com venda.
 

Uma das coisas que o fazendeiro mais perde tempo e se estressa é, na hora de vender o animal, começar a cotar preço em frigorífico. O cara fica louco! Aqui não, o produtor liga, escala, vai embora pra casa e acabou. A única coisa que ele tem a fazer é tirar nota. O resto, até entrega da nota fiscal, a gente faz.

A Novilho Precoce MS trabalha com segmentação de mercado?
Negativo. Eu sempre tive, como associado da Novilho, vontade de que a associação tivesse um leque de parcerias e produtos pra apresentar. Pra cada tipo de mercado, existe um produtor. Um criador de super precoce tem que ser valorizado e receber 6% a mais do que o mercado. O criador de precoce comum até 3 anos recebe um plus de 2%. Se o pecuarista não tem nem um, nem outro e engorda vaca, nós temos parceria com JBS pra abater também. Na minha cabeça, a associação tem que ter um leque de parcerias e, quando você vier me procurar, eu falo pra qual estabelecimento você vai vender.

Eu não posso enquadrar a associação apenas com a intenção de abater novilho precoce, porque hoje a gente mata vaca no JBS. Nós matamos no ano passado 70 mil cabeças no JBS e 30 mil foram bois. Antes a gente não matava boi, só abatia novilho. Hoje você tem vaca, boi, vaca pesada.

Ano passado nós chegamos a receber pela vaca a preço de boi gordo. Ou seja, no meu caso, eu tinha vaca gorda, recebia como boi. Tinha boi, recebia como boi mais 2%. Tinha novilho e vendia como boi. Era tudo boi! Então, no final, eu só vendi boi na fazenda no ano passado, que é o melhor produto que tem. Mas isso só acontece porque a associação consegue dar regularidade ao frigorífico, constância, acompanhamento e controle da própria qualidade. A associação mostrou para o mercado que faz a lição de casa.

Nós temos casos de produtores que mandam gado ruim e, sem o frigorífico falar nada, nós vamos atrás dele. Nós temos um corpo técnico que fica dentro do frigorífico para acompanhar. Não que nós vamos penalizar, mas se o produtor insistir, é passível de punição, suspensão dos abates e até desligamento da Novilho Precoce. Isso porque eu quero ter minha cara à tapa quando eu chegar pro frigorífico negociar, dizer que vou ter um número de cabeças com a mesma qualidade. E vou provar isso com o histórico.

Você acredita que o produtor tem que estar ligado a algum tipo de rede?
Sabe que eu tava pensando nisso no meu carro agora? Eu acho que todo mundo tem que ser feliz. Se você é feliz trabalhando sozinho na fazenda, andando a cavalo, cuidando dos seus bois, tá bom. Se você tá insatisfeito com o que está acontecendo, não fale mal da pecuária, procure uma associação primeiro.

Tem muita gente que tem esse perfil. A fazenda ao lado da minha tem quatro mil animais e o próprio dono faz questão de vacinar o rebanho sozinho, anda a cavalo e aparta touro. Não sai da fazenda. Vou falar que esse cara tá errado? O gado dele é muito bom, ele vende muito bem e o custo de vida é lá embaixo. É a vida dele. Eu não sou assim, então eu preciso procurar alguma coisa que complemente minha produção.

Em conversa com Cesário Ramalho, presidente da Sociedade Rural Brasileira, ele disse que é melhor um produtor procurar uma entidade já existente que fundar outra. Concorda?
Seria melhor. O Zé Ito (José Lemos Monteiro, presidente da Comissão de Pecuária de Corte da Famasul) está fundando uma cooperativa de carne. Eu sei metade dos problemas pelos quais ele vai passar. Isso não quer dizer que ele tenha que vir para a Novilho Precoce MS e nem que a gente tenha que ir pra lá, mas temos que trocar experiência. Se juntasse, não ia adiantar, pois o perfil deles é um e o nosso é outro. Nós nos dedicamos a produzir qualidade e eles querem levar a carne até o consumidor. Aí entra a segmentação.

Como foi o ano de 2010 e qual a expectativa para 2011?
Ano passado fizeram a mesma pergunta para mim e eu só disse coisa boa. O ano passado a pecuária não tava muito positiva e o pessoal falava “só se for na associação”. Esse ano nós fomos à Feicorte como a primeira entidade do Mato Grosso do Sul a participar do evento. Foi um marco pra nós, que recebemos o secretário do estado, autoridades do nosso governo, abrimos uma porta fantástica para nós. Fomos escolhidos novamente pelo Carrefour para lançar a marca Selección, que é uma marca mundial da empresa francesa e nós somos o fornecedor do estado do MS. Só tem dois no Brasil. Uma lá no sul, que fornece simental e a outra somos nós. Além disso, conseguimos reatar as negociações com o JBS, que é o maior frigorífico do mundo.

Unimos a classe através de eventos que reuniram a maioria dos produtores para lançar o SAT – Serviço de Assistência Técnica - ao pecuarista para fortalecer o ganho dele. 2% é muito pouco, ele tem que ganhar dentro da fazenda. Se você sai de um ganho de peso de 300 gramas a 400, você ganha mais de 35% e isso é muito mais do que os 2% na venda. É muito mais importante ele melhorar dentro da fazenda que fora, porque quando você ganha o plus de 2%, o impacto visual é na hora.

E é isso que nós temos que nos concentrar no ano que vem. Melhorar a capacidade do produtor em ganhar dinheiro por hectare e fazê-lo saber o quanto está gastando e ganhando pra calcular o lucro. Essa é uma pergunta que ninguém sabe responder. Em dez palavras, eu faço você saber o custo de qualquer fazenda. É fácil, mas ninguém presta atenção.

Para 2011, o objetivo é o fortalecimento da classe e a fixação da nossa marca, a Primo Corte. É uma conquista que coloca na gôndola todo o trabalho que a gente fazia e, às vezes, não conseguia mostrar. Quando você fornece pro Carrefour, ele distribui pra todo o Brasil e a mercadoria se dilui pelo mercado. Agora, não.

Também nós lançamos dia 17 de dezembro a primeira carne totalmente rastreada. Através de um código de barra e em uma tela vai aparecer a localização da fazenda o nome do proprietário. Isso não existia no Brasil ainda!

E quanto ao fortalecimento das parcerias?
É fundamental, porque o volume de abates da associação é grande e não comporta vivermos só da marca própria. São 100 mil animais abatidos que queremos chegar em 2011. A gente depende da rede varejista e de frigorífico. Tem pecuarista que abate 500 bois por dia e o frigorífico médio não compra isso. Se for alçar exportação, só o frigorífico grande está habilitado para a Europa. Nós temos que quebrar paradigmas das grandes empresas. Ou você se associa a esses elos da cadeia ou sai dela e tem que vender bezerro. Pecuarista que fala mal de frigorífico e vende boi gordo, tá batendo a cabeça na parede! Você não pode ser hipócrita de falar mal do frigorífico e vender boi pra ele.

Fonte: José Luiz Alves Neto / Rede Rural Centro



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