Produtor de sucesso: integração lavoura-pecuária e três safras anuais

09 Sep 2011
A integração lavoura-pecuária ganhou uma nova denominação no meio-norte do Mato Grosso: a terceira safra. Depois de colher a soja e o milho, os produtores aproveitam para soltar o gado na área, que engorda com restos da safrinha e com capim, milheto e sorgo (plantados em áreas não cultivadas de milho) no período de julho a setembro.
Produção de soja
O agricultor Silvesio de Oliveira, que cultiva soja desde 1994, diz que as principais evoluções no cultivo da oleaginosa foram os fungicidas, tecnologia aplicada nas sementes e, a principal de todas, a soja transgênica. Em sua região, Tapurah, próxima a Lucas do Rio Verde, Sorriso e Nova Mutum, 95% das sementes utilizadas são certificadas, principalmente pelas empresas Monsanto, Pioneer e TMG. “Pela altitude baixa, não conseguimos produzir sementes e conservá-las em bom estado”.
Já o clima é regular. As chuvas ocorrem de outubro a abril e depois cessam. “A última chuva foi em 23 de abril nesse ano”, lembra Oliveira. No entanto, ainda que esteja há mais de quatro meses sem água, as épocas do ano bem definidas beneficiam o planejamento para a agricultura.
Terceira safra
O agricultor Silvesio de Oliveira cultiva soja em cerca de 1430 hectares desde 1994. A produtividade média dos últimos anos tem sido de 3,5 toneladas de soja e seis toneladas de milho por hectare. O milho safrinha (foto à direita) é plantado em cerca de 70% da área total da propriedade. “Não dá tempo de plantar toda a área, já que a colheita da soja termina no fim de março. Mas os outros 30% a gente planta capim, sorgo ou milheto para alimentar o gado que entra depois”, explica Oliveira.
Assim, de acordo com o calendário das estações, o ciclo da propriedade é o seguinte:
Safra de soja | Safrinha de milho | Pecuária | |
Início | Fim de setembro a início de novembro | Março | Julho |
Fim | Janeiro a março | Final de junho e julho | Setembro |
Área destinada | 100% | 70% | 100% |
Entre julho e setembro, Oliveira aproveita os restos da colheita do milho safrinha e introduz o gado na área. “O pessoal aqui da região começou a chamar esse sistema (integração lavoura-pecuária) de terceira safra, pois acaba sendo soja, milho e gado”, explica Silvesio.
Dificuldades na produção da soja
A comercialização de sua safra é feita com trades pela facilidade de vender e disponibilidade de instalações, como secadores e armazéns. “As trades que fazem o meio de campo e travam o mercado futuro também. São poucos os agricultores da região que exportam diretamente ”, afirma Silvesio. Já a expectativa para a safra de soja 2011/12 é positiva. “O mercado e o preço da soja estão em alta e o único risco é mesmo o custo de produção e a valorização do real, já que vendemos tudo em dólar. A valorização da moeda é o maior gargalo da produção de soja atualmente”, enfatiza Oliveira.
Em 2004, a sojicultura do Mato Grosso sofreu uma de suas piores intempéries com o excesso de chuvas. Silvesio afirma ter perdido neste ano 15% de sua produção total. Não bastasse o revés climático, em 2005 e 2006 a desvalorização do real em relação ao dólar fez com que a venda dos grãos não cobrisse sequer o investimento feito. “A gente investe sempre em dólar. Cada dólar custava R$ 3,20 e depois da safra custava R$ 2,50 a R$ 2,20”, lamenta o sojicultor.
Nesta época surgiu a Aprosoja, a Associação dos Produtores de Soja do Estado de Mato Grosso. A instituição investiu em programas que facilitassem tanto a gestão da propriedade como a dos custos de produção – um dos maiores entraves da produção hoje, segundo Silvesio Oliveira, que afirma que seus gastos principais são com adubos, defensivos, sementes, auto-peças, máquinas e funcionários.
Para se precaver, a dica de Oliveira é usar as ferramentas de gestão disponíveis, como o Sojaplus, um software (programa de computador) gratuito feito para associados da Aprosoja, e programar a safra seguinte. “Eu já sei quanto vai custar toda a safra que eu vou plantar agora em setembro e já travei os preços no mercado futuro para saber que não vou quebrar”, garante o agricultor.
O interessado em contar com o Sojaplus pode entrar em contato com o Programa de Gestão Sócio-ambiental da Propriedade Rural Brasileira ou tirar suas dúvidas na Aprosoja.
Fotos: Acervo Aprosoja e Felipe Barros (em destaque)
Fonte: José Luiz Alves Neto / Rural Centro