Mulheres no Campo: pecuarista Jussara Gomes Negrão
27 Jan 2012
Ela transformou a fazenda em uma empresa rural. Os números demonstram o sucesso e provam que informação, dedicação e tecnologia auxiliam no êxito dos resultados. A entrevistada da série Mulheres no Campo dessa semana é a pecuarista e contadora Jussara Gomes Negrão. Veja como ela conseguiu ter sucesso e saiba quais são as metas para este ano. Confira a entrevista:
Rural Centro – Para começar conte um pouco sobre sua vida: onde nasceu e como teve contato com o meio rural? Pelo amor ou pela dor?
Jussara Negrão - Nasci em Campo Grande, venho de uma família simples, porém, trabalhadora. Casei com o pecuarista Fernando Luiz Negrão e fomos morar em Aquidauana, cidade que adotei no meu coração. Entrei no meio rural em setembro de 2001 com o falecimento do meu marido. Na ocasião não tinha conhecimento nenhum de fazenda, na realidade não sabia nem diferenciar a femêa do macho. Mas tinha plena consciência que precisava aprender com urgência para administrar um bem familiar que já vinha de três gerações. Tenho somente uma filha, hoje com 16 anos (Rebeca). Hoje estou casada com o Engenheiro José Nelson, e continuo levando uma vida simples. Amo a simplicidade. Trabalhar na fazenda para mim hoje é sinônimo de satisfação.
RC – Vejo que a determinação e a disciplina foram fatores primordiais neste início de caminhada. Acredita que estes predicados seja um dos diferenciais femininos? Além disso, existe informação o suficiente para se qualificar no meio?
JN - Sempre fui uma pessoa determinada, disciplinada e sem medo de arriscar. Não creio que seja predicado somente feminino, é a vontade de realizar o melhor, de fazer a diferença. Com a internet você dá volta ao mundo. Quando entrei na fazenda, fiquei dois anos estudando pela internet. Fiz vários cursos de aperfeiçoamento de gado de corte, de confinamento, de cruzamento industrial, produção de novilhos precoce, procurei visitar fazendas, gosto de participar do dia de campo, inclusive já fizemos dois eventos na fazenda. Existem canais de TV, jornais, revistas, todas voltadas exclusivamente para o meio rural. Hoje existem muitas informações disponíveis, só não se atualiza quem não quer.
RC - A senhora estava nos contando que desde o momento em que assumiu à frente da propriedade teve resultados bastante significativos. Como era e como está hoje a fazenda Cedron?
JN - A fazenda Cedron era totalmente administrada pelo sistema tradicional, estação de monta ano todo, água de açude, não havia engorda, recriava-se as fêmeas e os machos eram vendidos para sustentar a fazenda e a despesas particulares. Hoje aplicamos tecnologias que contribuíram decisivamente para o avanço da fazenda. A propriedade trabalha agora com sistema de cria, recria e engorda com terminação dos animais em sistema de confinamento. A capacidade estática do confinamento Cedron é de 1.000 (mil) animais, sendo: animais precoces abatidos com idade média de 22 meses com peso médio de 510 kg e os animais super-precoce abatidos com 14 meses de idade com peso médio de 476 Kg. Aplicamos melhoramento genético onde podemos levar bezerros Nelore na Exposição de Aquidauana com idade média de 12 meses pesando 346 kg. Tudo esta informatizado, inclusive estamos inseridos na lista TRACES, aplicamos estação de monta de três meses, fazemos IATF em 70% das matrizes e toda água é canalizada com sistema de pasto rotacionado. Fizemos muitas parcerias que tem contribuído para o avanço da Fazenda Cedron.
RC - A senhora sente que a mulher ainda sofre discriminação no meio rural, tradicionalmente machista? Como lida com esta questão?
JN - Sempre tive comigo que sexo e idade não medem capacidade. Faço parte de Associações e Sindicatos. Fui muito bem recebida no meio rural da minha região, tenho ótimos amigos, trocamos muitas informações, não enxergo nenhum preconceito neste sentido.
RC – Para ter sucesso no campo acredita que é preciso lidar com a fazenda como se fosse uma empresa?
JN - A minha formação é ciências contábeis, sou apaixonada por números. Em 2004 transformei a fazenda em empresa, foi de forma fictícia, mas até hoje administro desta maneira. Só para exemplificar, eu recebo salário, preciso economizar gastos particulares porque a fazenda não vai sustentar algo que não planejei particularmente. Tenho duas contas em banco, uma de uso particular e outra para fazenda. Levo isto muito a sério, só assim consegui fazer investimentos e aumentar produtividade em pouco tempo. Afinal, dez anos em fazenda não é nada, tudo leva muito tempo para concretizar.
RC – Quais os desafios para 2012?
JN - Sempre falo para os amigos que Deus tem feito infinitamente mais do que tenho pedido ou mesmo pensado, mas tenho muitos sonhos e projetos. Estou me preparando para lançar nosso primeiro leilão de animais de qualidade, estou me dedicando as boas práticas pecuárias. Acredito que devemos ter sempre vontade de mudar e a melhor estratégia é adotar qualidade e eficiência, só assim conseguimos sucesso no sistema de produção.
Veja as fotos de Jussara Negrão:
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Fonte: Elaine Valdez - Rural Centro