Produção de carne bovina no Brasil: analista recomenda gestão de risco

24 Apr 2012

Nesta segunda-feira o analista Leonardo Alencar, responsável pela pesquisa de mercado do Frigorífico Minerva, esteve em Campo Grande-MS para ministrar uma palestra sobre “Cenário e Tendências da Pecuária de Corte”. Em síntese, Alencar acredita que o mercado da pecuária vive seu ciclo de baixa, mas que o cenário a médio e longo prazo é otimista para o país, principalmente pelas condições pouco favoráveis dos nossos principais concorrentes na produção de carne bovina: Argentina, Austrália, Estados Unidos e União Europeia.

“Vivemos um ciclo da pecuária a cada seis, oito anos. 2012 é a primeira vez nesse período que estamos falando de baixa, mas ainda não podemos confirmar”, disse Alencar. No entanto, na mesma palestra, o pesquisador do Minerva tranqüilizou os pecuaristas: é comum em anos de baixa do ciclo, mesmo que o preço da arroba seja desvalorizado, a remuneração ser melhor para o produtor. “A gente acena com a bandeira amarela, o boi pode ficar abaixo da inflação e o custo pode impactar na lucratividade mesmo. Mas a troca pode ser melhor, facilitando a reposição e, consequentemente, a rentabilidade melhora”, explica Leonardo.

Demanda de carne bovina

Quatro fatores forçarão os produtores de alimentos a aumentar sua produtividade. São eles:

- Crescimento da população mundial (cerca de 9 bilhões de pessoas nas próximas décadas);

- 70% da população se concentra na área urbana;

- Melhora da renda per capita da população mundial;

- Ocidentalização do consumo, ou seja, mais pessoas consumindo diversos tipos de carne.

“É uma pressão para quem está no campo aumentar a produção. No Brasil, 54% da população está na Classe C, que é a primeira a impulsionar o consumo de carne. Na China, a gente brinca dizendo que se cada pessoa consumisse 100 gramas de carne por dia, quase não haveria carne no mundo”, ilustrou o analista. Segundo ele, a China paga pelo pé de galinha o mesmo preço da carne bovina e, se a ocidentalização do consumo chegar ao país oriental, os produtores não saberiam como produzir mais.

Outros dados apresentados por Leonardo Alencar que reforçam o aumento da demanda interna:

- De 2003 a 2011, 40 milhões de pessoas foram inseridas na Classe C no Brasil (considerada clásse média);

- Até 2014, serão mais 12 milhões de pessoas na Classe C e mais 7,7 milhões inseridas nas Classes A e B.

- As classes A, B e C, somadas, representarão 75% da população brasileira.

Posição confortável para o Brasil

Em gráfico demonstrado no mapa mundi, Leonardo Alencar apontou quais são as principais áreas do mundo que têm potencial para aumentar sua produtividade de alimentos. A imagem mostrou que Brasil e uma parte do continente africano têm disponibilidade de área, incidência de chuvas, temperatura, luminosidade e recursos hídricos favoráveis ao aumento da produção de alimentos. Só no Brasil, existem 333 milhões de hectares que podem ser usadas na produção de alimentos sem necessidade de serem desmatadas. Em termos de custo de produção, só a Argentina está numa posição mais confortável que o Brasil, mas também tem seus problemas. Vejam quais as dificuldades que os principais “adversários” do Brasil na corrida pela produção de carne bovina sofrem:

Bandeira da Argentina Argentina: crise política pela estatização da empresa petrolífera e manutenção de preços dos cortes de carne mais populares forçam uma situação artificial;

Bandeira da Austrália Austrália: a seca debilitou o solo e fez com que o país perdesse seu banco natural de sementes de pastagens, dificultando o aumento da pecuária de corte;

Bandeira dos Estados Unidos

 Estados Unidos: a seca forçou o abate do rebanho de fêmeas e remoção de parte do rebanho do Sul para o Norte por falta d’água. Confinadores e indústrias estão perdendo dinheiro e o consumidor está pagando caro pela carne. Produção não deve cresce nos próximos anos.

Bandeira da União Europeia União Europeia: não representa números significativos em termos de exportação, mas produz muito para o consumo interno. Entretanto, a crise política fez com que a UE cortasse gastos e, consequentemente, os subsídios agrícolas, que terá impactos a longo prazo.

Gestão de risco na pecuária

O possível movimento de baixa para o ciclo da pecuária força o movimento do boi para baixo, principalmente na época de safra, quando o início da seca e a pouca oferta de pastagens aumentam a escala de abate. Mesmo acreditando na fase de baixa, Alencar salientou que o mercado futuro do boi gordo aponta R$ 102 à vista sem Funrural para outubro de 2012.

Veja também

Confinar 2012 - Simpósio Sul-mato-grossense de Confinamento de Gado de Corte

A situação estimula o aumento do confinamento para  produção de boi na entressafra. Alencar disse prever aumento de 8% no gado confinado em SP e + 20% em MS. Neste ano, cerca de 50% do volume de gado confinado deverá ser abatido entre os meses de setembro, outubro e novembro, enquanto em 2011 essa porcentagem foi de 60%, indicando que está acontecendo uma distribuição do abate de gado em confinamento. Deste modo, a pressão no mercado diminui e os dois lados, indústria e pecuarista, saem ganhando. “Se o pecuarista pensar no confinamento como estratégia, ele tem alta probabilidade de conseguir um bom preço na entressafra”, recomenda Alencar.

Além do confinamento, Alencar recomendou o uso de proteções de preço para que o pecuarista consiga lucrar com sua operação. “Se você consegue enxergar o mercado pela frente e acredita em um patamar seguro, use o mercado futuro. Se o mercado ainda é desconhecido, ele pode optar pelo boi a termo”, indica o analista.

O que é mercado a termo?

Simulação de boi a termo convencional
Custo da produção: R$ 80,00 por @.
Mercado futuro para o mês de vencimento: R$ 90,00 a @.
Custo da operação: zero
Realização: R$90,00.
Pecuarista ganha R$ 10,00 por arroba (90 - 80).
Cenário 1: Se o preço sobre a R$ 95,00, ele deixa de lucrar R$ 5,00 por arroba.
Cenário 2: Se o preço cai a R$ 85,00, ele lucra R$ 5,00.

Simulação de boi a termo com preço mínimo
Mercado futuro para o mês de vencimento: R$ 90,00 a @.
Seguro ofertado: R$ 85,00
Custo do seguro: R$ 1,00 por arroba.
Mínimo assegurado: 84,00 (85 - 1).
Se o mercado sobe a R$ 95,00, ele recebe R$94,00 por @, ou seja, acompanha a alta do mercado e tem o preço que pagou pelo seguro retirado.
Se o mercado cai a R$77,00, por exemplo, ele recebe o mínimo de R$84,00 assegurado.

Boi a termo
 
Vantagens
 
Desvantagens
 
Convencional - Operação 100% visualizada. - Não ganha na alta.
Preço mínimo - Se o mercado reage, o pecuarista ganha na alta.
- Reduz o risco da reposição, pois segue o mercado.
- Tem custo.

 

Concentração de frigoríficos

Carcaça bovina em frigoríficoIndagado pelos pecuaristas sobre a concentração dos frigoríficos, Leonardo comentou que a situação no Brasil ainda é confortável. De acordo com ele, os três maiores frigoríficos brasileiros (Minerva, Marfrig e JBS) são responsáveis por 28% dos abates de bovinos no Brasil. “Nos Estados Unidos a situação é bem diferente. Os três maiores de lá, Tyson, Cargill e JBS, abatem 70% dos bovinos. O que existe no Brasil são situações onde há concentração em algumas localidades, como acontece no Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, por exemplo. Em São Paulo existem pelo menos 15 frigoríficos operando. Em Rondônia, a situação é oposta. São tantos frigoríficos que fica difícil aumentar o preço da arroba”, lembrou Leonardo Alencar.

Para resumir sua palestra, o pesquisador de mercado do frigorífico Minerva deu a dica: fazer gestão de risco a curto prazo, usando confinamento e travas de mercado. A médio e longo prazo, o Brasil tem um cenário muito favorável para a pecuária de corte.

Fonte: José Luiz Alves Neto / Rural Centro



Nosso site possui algumas políticas de privacidade. Tudo para tornar sua experiência a mais agradável possível. Para entender quais são, clique em POLÍTICA DE PRIVACIDADE. Ao clicar em Eu concordo, você aceita as nossas políticas de privacidades.