Avicultores apostam na energia fotovoltaica para diminuir custos de produção

04 Feb 2022
O agronegócio é um dos setores que mais investe nesse tipo de energia limpa. Somente no primeiro semestre de 2019 foram produzidos 32.963kWp, cerca de 86% do total gerado durante todo o ano anterior. Atualmente, o setor rural responde por 13,1% de toda a potência instalada em sistemas de geração própria com a fonte fotovoltaica.
A constância do sol nas cidades brasileiras precisa ser vista como um privilégio, afinal, muitos países mundo afora não têm a presença o ‘Astro Rei’ durante os 12 meses do ano, como aqui no Brasil.
E saber tirar proveito dessa energia proporcionada por ele é algo ainda novo por aqui, mas os números mostram que o Brasil cresce a cada ano na geração de energia fotovoltaica, apesar de ainda ter muito a avançar.
O país ultrapassou na primeira semana de janeiro a marca de 1 milhão de unidades consumidoras (UCs) atendidas pela geração distribuída solar fotovoltaica, segundo a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar). A potência instalada em 2021 foi de 8,4 GW, aumento de 64% em relação a 2020, quando este número era de 4.798 GW.
O agronegócio é um dos setores que mais investe nesse tipo de energia limpa. Somente no primeiro semestre de 2019 foram produzidos 32.963kWp, cerca de 86% do total gerado durante todo o ano anterior. Atualmente, o setor rural responde por 13,1% de toda a potência instalada em sistemas de geração própria com a fonte fotovoltaica.
Desde 2012, os produtores rurais brasileiros já investiram cerca de R$ 3,4 bilhões em energia fotovoltaica, gerando mais de 21 mil empregos.
Economia
Se por um lado os constantes aumentos na tarifa de energia registrados em 2021, causados pela longa estiagem em algumas regiões do país, impactaram a produção agropecuária, por outro, os dias ensolarados podem ser um diferencial na busca por uma energia limpa e mais barata.
Avicultor Gilberto Krenchinski
O avicultor Gilberto Krenchinski investiu cerca de R$ 800 mil para instalar o sistema fotovoltaico em sua granja localizada no município de Marechal Cândido Rondon, PR.
Segundo Krenchinski, além da economia, o que pesou na decisão em optar pela energia solar foi o rápido retorno do investimento. “O sistema se paga em quatro anos e meio”, destaca o avicultor.
No local existem oito barracões com capacidade para alojar cerca de 270 mil aves. Para conseguir atender a toda esta demanda, foram instalados na propriedade 368 painéis com potência instalada de 149.04 kWp.
A energia solar produzida na propriedade supre cerca de 95% do total consumido com as aves, e segundo Krenchinski, a economia média mensal com energia elétrica é de R$ 16 mil, conforme a época do ano. “Estou satisfeito com o investimento e não me arrependo de ter instalado energia solar na minha propriedade”, sustenta.
Avicultura
De acordo com o especialista em energia fotovoltaica e sócio-proprietário da MM2 Solar, Marcelo Possoli, entre seus clientes do agronegócio, o setor de avicultura é o que mais investe em modelos fotovoltaicos. “O avicultor é hoje o nosso carro-chefe em investimento em energia solar na nossa empresa”, e completa: “o sistema é viável também para muitos outros segmentos do agro, especialmente em tempos de escassez hídrica”.
Segundo Possoli, o Brasil possui um dos maiores recursos solares de todo o planeta, e por consequência disso, vem assumindo uma posição em destaque no uso da tecnologia. “A energia fotovoltaica ajuda a equilibrar o sistema energético do país”, comenta.
Instalação
Especialista em energia fotovoltaica e sócio-proprietário da MM2 Solar, Marcelo Possoli
A instalação qualificada de um gerador solar, corretamente dimensionado e dentro das normas, pode gerar a economia de energia maior do que uma eventual parcela de financiamento, de acordo com Marcelo Possoli. “E depois de pagar o investimento o produtor gerará a própria energia elétrica a custo zero”, afirma.
De acordo com o especialista, para identificar o tamanho do gerador necessário para suprir a necessidade da propriedade, é preciso dimensionar o gerador com base na média de consumo dos últimos 12 meses. A partir disso e de alguns fatores técnicos é que será possível saber o número de painéis necessários para deixar a propriedade sustentável em energia elétrica. “O inversor será dimensionado com base na quantidade de painéis solares, analisando ainda se será necessário instalar um inversor de maior porte prevendo uma futura ampliação”, explica.
Segundo ele, a opção por painéis solares e equipamentos das melhores marcas proporcionam 10 anos de garantia contra defeito de fabricação e 25 anos de garantia de desempenho. Ainda de acordo com Possoli, dentro de 25 anos, o painel ainda terá capacidade de gerar 80% de energia. “Após esse período a geração pode cair gradualmente, sendo estimada a vida útil e viável do painel em até 40 anos”, menciona Marcelo.
Manutenção
Ter um acompanhamento técnico do seu sistema instalado na propriedade e estar atento as manutenções é muito importante para evitar problemas e aumentar a vida útil dos equipamentos. “Em sistemas de menor porte é somente limpeza dos painéis com água e sabão neutro”, menciona Possoli.
Em usinas solares de maior porte, que possuem mais componentes, é recomendado o reaperto de conexões elétricas, laudo de aterramento, termografia, entre outros.
De acordo com Possoli, a frequência da limpeza dos painéis depende muito do local da instalação. Nas áreas rurais é indicado pelo menos duas vezes ao ano. “É recomendado a contratação de profissional especializado para evitar acidentes ou danos ao sistema”.
Marco regulatório
No início de janeiro, o presidente Jair Bolsonaro sancionou a lei 14.300/2022, que estipula um marco regulatório da geração distribuída de energia. A medida é destinada a consumidores que produzem a própria energia elétrica, em particular aquelas geradas por meio de fontes renováveis.
Antes das mudanças, o mercado da geração distribuída era regulado por uma resolução normativa da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Com a nova lei, as modificações nas regras passarão a ser progressivas. O texto garante que sistemas de geração própria em funcionamento ainda serão reguladas pelas normas atuais até 2045, assim como as novas solicitações de acesso de até 500 kW feitas em até um ano a partir da publicação da lei.
Entretanto, as solicitações feitas após esse período entrarão em um modelo de transição escalonado. Dessa forma, o pagamento da tarifa sofrerá aumento anual da porcentagem a ser paga para o uso do sistema de distribuição (Tusd).
O modelo de transição conta ainda com duas regras distintas: a primeira para os pedidos feitos entre o 13º e o 18º mês após a publicação da lei, com o prazo de transição de oito anos até o pagamento da Tusd. A segunda regra é para pedidos feitos após o 18º mês, com tempo de seis anos.
Dentro destes modelos de transição, para cada unidade de energia injetada na rede elétrica será descontado o equivalente a 4,1% da tarifa de eletricidade média de baixa tensão em 2023. Nos anos seguintes, o desconto sofrerá um aumento gradual de 4,1% ao ano, até atingir 24,3% em 2028. Os descontos serão feitos para cobrir os custos do uso da infraestrutura elétrica, apenas quando a energia elétrica gerada pelo consumidor for injetada na rede.
Já os consumidores com novos sistemas acima de 500 kW da modalidade de autoconsumo remoto, no qual o sistema gerador é instalado em um local diferente daquele em que a energia será consumida, terão que pagar sobre a energia injetada na rede elétrica 29,3% da tarifa de eletricidade média de baixa tensão, de 2023 até 2028.
Fonte: O Presente Rural