Como cooperativas e pequenos produtores estão sobrevivendo à crise sanitária

20 Aug 2021

Conheça a história do Instituto Conexões Sustentáveis (Conexsus), que expandiu sua atuação durante a pandemia e beneficiou 10,5 mil produtores familiares por meio de linha de crédito e assessoria financeira

"Dê ao homem um peixe e ele se alimentará por um dia. Ensine um homem a pescar e ele se alimentará por toda a vida." Este provérbio chinês existe há séculos, mas nunca fez tanto sentido no mundo corporativo. Em tempos de ESG (sigla em inglês para Ambiental, Social e Governança), a filantropia ganhou um novo sentido: mais do que simplesmente doar dinheiro aos mais necessitados, a ordem agora é investir em negócios de impacto que possibilitem a autonomia dos beneficiários a médio prazo.

Trata-se de uma tendência entre as grandes empresas em todo o mundo e que já começa a guiar as estratégias de filantropia corporativa também no Brasil, fato que tem fomentado o surgimento de inúmeras instituições focadas na identificação de projetos e gestão de fundos de investimentos sociais e ambientais no país.

É o caso do Instituto Conexões Sustentáveis (Conexsus), uma organização sem fins lucrativos especializada na estruturação de negócios comunitários, tanto rurais quanto florestais, que aposta na gestão como ferramenta para o aumento da renda dos pequenos produtores e a conservação dos ecossistemas naturais.

Fundado em 2018, o fundo já captou R$ 10 milhões junto a empresas habituadas à filantropia tradicional, mas que agora buscam também investimentos de impacto. "Criamos um mecanismo para quem queria investir nesses negócios", afirma Carina Pimenta, co-fundadora da Conexsus. "O impacto desse tipo de doação é mais duradouro, já que os investimentos retornam ao fundo e podem ser resgatados ou reinvestidos em outros projetos."

A executiva explica que os recursos são disponibilizados aos produtores por meio de um financiamento privado, porém com juros mais baixos do que os praticados no mercado - em média 6% ao ano. No entanto, mais do que a simples concessão dos recursos, o trabalho da Conexsus envolve também assessoria técnica em gestão e planejamento produtivo, desenvolvimento de mercados e até a organização de documentações, o que já vem sendo chamado de crédito educativo.

Assesoria financeira e crédito durante a pandemia

Criado com a missão de contribuir para o desenvolvimento sustentável das cadeias produtivas na floresta, o Conexsus se viu obrigado a expandir a sua área de atuação durante a pandemia, passando a atender também pequenos produtores localizados próximos aos centros urbanos, um dos grupos mais impactados pelo fechamento repentino de restaurantes, escolas e repartições públicas no auge da crise sanitária.

"Esses produtores se viram, de uma hora para outra, sem compradores, sem caixa e sem alternativas", relembra Carina. Foi quando o instituto abriu a sua primeira chamada pública para tomada de crédito, que contemplou 84 negócios comunitários e beneficiou cerca de 10,5 mil produtores familiares nas cinco regiões do Brasil - pessoas que em geral trabalhavam na informalidade e que, por isso, não tinham acesso a linhas de crédito, fossem elas públicas ou privadas.

Com uma equipe composta por oito assessores financeiros, a equipe Conexsus passou a apoiar seus parceiros em uma jornada financeira educativa, trabalhando a gestão, o controle financeiro, os sistemas de comercialização e até a digitalização dos negócios para torná-los mais eficientes. Os resultados não demoraram a aparecer. Mais do que sobreviverem à crise, os produtores estão conseguindo pagar as suas dívidas. De acordo com a Conexsus, a provisão de inadimplência deve ficar na casa dos 4,5%, abaixo, portanto, da média do mercado.

"Estamos promovendo um processo de inclusão. Nosso objetivo é preparar esses produtores para que eles consigam acessar o crédito rural público, subsidiado", 

explica a diretora do Conexsus, lembrando que atualmente apenas 2% dos R$ 33 bilhões disponibilizados pelo Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), que cobra juros entre 3% e 4,5% ao ano, vão para a produção sustentável. "Atuamos basicamente aonde as políticas públicas não chegam."

 

 

 

 

Fonte: Revista Globo Rural



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