Guerra pode pressionar PIB do agronegócio do Brasil em 2022
19 Mar 2022
Além dos preços elevados de animais vivos, a quebra na segunda safra de grãos do ano passado ajudou a elevar os custos com milho
O Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio brasileiro tende a desacelerar ou até cair em 2022, quando comparado à alta de 8,36% registrada no ano passado, pressionado por custos de produção elevados pelos impactos da guerra na Ucrânia, estimou nesta quarta-feira o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) à Reuters.
Em uma projeção preliminar, a pesquisadora da área de macroeconomia do Cepea Nicole Rennó disse que o PIB do setor pode cair de 4% a 6% no cenário mais pessimista, e subir até 5% na melhor perspectiva.
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"Esperamos um desempenho pior do PIB do agronegócio, mas lembrando que a base está muito alta... O que vai trazer grande desafio para o PIB é o cenário (que) está mais complicado por conta dos custos em alta", disse.
Ela afirmou que as despesas elevadas já atingiam o agro no ano passado. "E a situação foi agravada por conta dos fertilizantes, (com o conflito) da Rússia", acrescentou.
"Agora, os custos com fertilizantes, energia, combustíveis e, se a gente pensar na pecuária, preços dos grãos que devem continuar firmes, representam mais custos para o setor como um todo."
A especialista ainda destacou que a demanda doméstica tende a continuar fraca, fator que pesa sobre a pecuária. Embora as exportações sejam um importante impulsionador dos resultados do segmento de carnes, disse ela, a maior parcela da produção é destinada ao consumidor brasileiro.
Balanço
O ano de 2021 foi marcado por aumento de 8,36% no PIB, mensurado pelo Cepea em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Contudo, o avanço veio abaixo da expectativa de 9,37%, uma vez que a inflação deteriorou a medida de renda real do agronegócio.
A quebra de safra de milho e resultados negativos na pecuária também limitaram o crescimento anual.
Ainda assim, o agronegócio alcançou participação de 27,4% no PIB brasileiro, a maior desde 2004 --quando foi de 27,53%.
Segundo o levantamento, o setor agrícola registrou alta de 15,88%, enquanto a pecuária recuou 8,95% no ano passado.
"O forte crescimento do PIB do segmento primário agrícola decorreu especialmente do alto patamar real dos preços, tendo em vista as expressivas quebras de produção para importantes culturas, devido ao clima desfavorável", disse o Cepea em nota.
O centro de estudos afirmou que o avanço da renda na agricultura só não foi ainda maior por conta do também expressivo incremento dos custos de produção, que, por sua vez, elevou o desempenho do segmento de insumos.
"Esse crescimento refletiu, em grande medida, a alta importante dos preços de fertilizantes e de máquinas agrícolas (mas o aumento da produção nacional de fertilizantes, defensivos e máquinas agrícolas também impulsionou os resultados)", acrescentou.
Na pecuária, a queda teve como principal fator de pressão o forte aumento dos custos com insumos, seja dentro da porteira, na agroindústria ou nos agrosserviços do ramo.
Além dos preços elevados de animais vivos, a quebra na segunda safra de grãos do ano passado elevou os custos com milho, matéria-prima utilizada na ração utilizada na pecuária.
"Ademais, a menor produção de boi gordo também influenciou negativamente o PIB pecuário", afirmou o Cepea.
Na véspera, o IBGE informou que os abates de bovinos do Brasil recuaram 7,8% em 2021, configurando o segundo ano consecutivo de queda, em meio à estratégia de retenção de fêmeas.
O Cepea também destacou que na agroindústria de carnes a relação entre faturamento e custos com insumos foi ainda mais desfavorável, diante das dificuldades de repasse das elevações das matérias-primas ao consumidor final devido a fragilização da demanda doméstica.
Considerando o PIB do agronegócio como um todo, o primeiro semestre registrou desempenho positivo e o segundo teve desempenho adverso. "Ressalta-se que, no último trimestre de 2021, especificamente, o PIB do agronegócio brasileiro chegou a cair, 2,03%, influenciado sobretudo por uma piora nos preços reais do setor".
Fonte: Portal do Agronegócio