17 Jul 2021

Com a irregularidade climática durando mais de um ano, especialistas e produtores começam a indicar possíveis danos da seca e das altas temperaturas também em 2022, que na teoria seria de ciclo alto para produção de café do Brasil. José Braz Matiello, engenheiro agrônomo da Fundação Procafé, destaca que ainda é muito cedo para falar em quebras, mas alerta que a condição hídrica do solo chama atenção e de fato preocupa o setor. 

De acordo com dados apresentados pelo especialista, além do atraso na estação chuvosa na florada da safra 2021, o corte nas precipitações também aconteceu antes do esperado, deixando a situação do solo ainda mais crítica. "A gente dá uma perspectiva, a gente não sabe exatamente o que vai acontecer, mas a gente vai mostrar como está a situação com o que temos hoje", acrescenta. 

Matiello explica que o grande problema é que a planta não teve o crescimento vegetativo dentro do ideal. "O número de nós está um pouco abaixo e quando a gente compara com a lavoura irrigada, a gente vê que essa lavoura tem pelo menos dois nós a mais", explica. O enfolhamento também chama atenção do especialista, que comenta as folhas estão menores e o internódio mais curto. "Esse internódio mais curto ele não permite um grande número de frutos. Essa falta de chuva está levando a um estresse muito preocupante", explica. 

Os gráficos apresentados nas principais áreas produtoras do Brasil, confirmam tanto a irregularidade durante 2020, mas também o corte precoce nas chuvas. No Sul de Minas Gerais, nas estações de Varginha e Boa Esperança, as curvas mostram que a estação seca começou em maio, pelo menos dois meses do esperado. 

"Você vê que a curva azul já está vindo abaixo da própria curva de 2020 tanto em Varginha, como em Boa Esperança. No Triângulo Mineiro, usando as cidades de Patrocínio e Araguarí como referência, o cenário é o mesmo.  

Já na região da Alta Mogiana, o cenário é mais crítico. O mapa ostra um déficit já em janeiro e fevereiro, subiu um pouco em março, mas entre e maio a gente tem o déficit, está muito abaixo inclusive de 2020. 

Confira os gráficos: 

A preocupação daqui pra frente é justamente com um possível atraso na estação chuvosa. "Somando essa expectativa de déficit em função do que acontece em anos normais, tudo indica que vai chegar lá em setembro com déficit acima de 200mm. Então, além do menor crescimento, o que vai acontecer é o enfolhamento do café. A folhagem do café é o que dá sustento na floração e depois no pegamento desse frutinho. Com a falta de água a planta vai perdendo força", comenta. 

Explica ainda que com essa expectativa, se não chover daqui pra frente, o desenvolvimento da próxima safra deve começar com uma condição ainda mais crítica do que o observado no ano passado. Já esperado que não chova nos próximos meses, condição característica do inverno, mas para aliviar o estresse hídrico, neste momento, Matiello explica ser necessário pelo menos 100mm de chuva em todas as áreas. 

Como estamos no inverno, o risco de geada também preocupa para a próxima produção. "Se com esses agravantes todos, mais a geada e numa expectativa de uma safra maior, o custo de produção crescendo, se acontecer uma geada vai desanimar muita gente", comenta. Chama atenção ainda que é muito importante que a estação chuvosa não atrase muito neste ano, e a cada sem chuva, a partir de agora já é muito importante para a recuperação da planta e para a safra de 2022.

Fonte: Notícias Agrícolas



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