Mercado da soja continua muito volátil
14 Apr 2022
Após o recuo da semana anterior, as cotações da soja, nesta semana, voltaram a subir em Chicago. O primeiro mês cotado fechou o dia 14/04, véspera do feriadão de Páscoa, em US$ 16,82/bushel, contra US$ 16,45 uma semana antes. Lembrando que no dia 1º de abril o bushel chegou a baixar para US$ 15,82. Ou seja, em 9 dias úteis o mesmo recuperou um dólar.
Na prática, o mercado da soja continua muito volátil, com fortes variações diárias, esperando os acontecimentos da guerra entre Rússia e Ucrânia. Este conflito atinge o mercado do petróleo, o qual influencia as cotações do óleo de soja. Também, agora, se aproxima o início do plantio da nova safra nos EUA. Com isso, o clima nas regiões produtoras deste país passa a ser fundamental. A respeito do óleo de soja, vale destacar que nos primeiros 13 dias de abril a libra-peso subiu 9,7% em Chicago, retornando à casa dos 78 centavos de dólar.
Outro elemento decisivo nesta equação é o comportamento da demanda chinesa. Neste sentido, o ritmo das compras externas do país asiático vem caindo de forma geral. No caso da soja, em março, as importações chinesas ficaram em 6,35 milhões de toneladas, com recuo de 18% sobre março do ano passado. (cf. Agrinvest Commodities) Além disso, a China deve ter vendido 500.000 toneladas de soja importada, que estavam em suas reservas, objetivando melhorar a oferta no mercado interno. Os chineses começaram a liberar soja importada de suas reservas ainda em meados de março, conforme as importações da oleaginosa diminuíam depois que o clima atrasou as exportações da América do Sul. Por sua vez, os preços do farelo de soja na China subiram desde o início do ano para máximas recordes no final de março, com a oferta de grãos apertada após a seca atingir a safra do Brasil e da Argentina. Já as margens de esmagamento da soja junto às indústrias chinesas, para entrega no período de maio a julho, recuaram bastante desestimulando a compra para entrega futura. Enfim, as importações chinesas de óleos vegetais, de janeiro a março, caíram 62,8% em relação ao ano anterior, para 1,047 milhão de toneladas. As importações de março atingiram 307.000 toneladas, queda de 61%, segundo dados da alfândega chinesa.
Na prática, a China estaria bem abastecida para este primeiro semestre de 2022, com cerca de 35 milhões de toneladas de soja em estoque e bons volumes de produto que deverão chegar do Brasil nos próximos meses. Além disso, os compradores chineses estão buscando garantir mais volumes para o segundo semestre, acreditando em preços menores diante de uma safra maior nos Estados Unidos. Aliás, caso uma safra cheia se confirme nos EUA o mercado espera que as cotações em Chicago venham para níveis entre US$ 14,50 e US$ 15,50 por bushel. (cf. Brandalizze Consulting) E no Brasil, os preços melhoraram um pouco, em relação a semana passada, apesar de o câmbio se manter abaixo de R$ 4,70 por dólar em boa parte da semana. A média gaúcha no balcão fechou esta semana de Páscoa em R$ 177,69/saco, enquanto nas demais praças nacionais os preços oscilaram entre R$ 155,00 e R$ 170,00/saco. Na prática, o Real mais forte vem impedindo o retorno dos preços à casa dos R$ 200,00.
Soma-se a isso a finalização da colheita nacional, com a entrada de cerca de 122 milhões de toneladas do produto (lembrando que a seca no verão do centro-sul nacional provocou uma perda superior a 20 milhões de toneladas). Por enquanto, o que vem ajudando os preços nacionais é a cotação em Chicago, muito elevada em relação as médias históricas, e o alto valor dos prêmios nos portos, o qual oscila entre US$ 1,60 e US$ 1,90/bushel neste momento. Dito isso, no Rio Grande do Sul, onde a colheita está bastante atrasada devido a seca no verão gaúcho, 34% da área havia sido colhida até o dia 08/04. Nestas últimas semanas, as chuvas atrasaram a mesma, causando inclusive prejuízos no produto que está na lavoura. Pela média histórica, a colheita deveria estar em 58% da área naquela data. (cf. Emater)
Por outro lado, no Brasil a comercialização da safra 2021/22 atingia a 57% da produção total esperada, até o dia 11/04. Em igual momento do ano passado os produtores brasileiros haviam negociado 67%, e a média histórica para a data é também de 57%. Para a safra futura 2022/23, as vendas antecipadas estariam ao redor de 10%, levando-se em conta uma possível safra de 145 milhões de toneladas. No mesmo período do ano passado, as vendas antecipadas chegavam a 14%, sendo que a média histórica é de 17,8%. (cf. Safras & Mercado)
Especificamente no Mato Grosso, as vendas antecipadas de soja, relativas a safra 2022/23, chegavam a 20,4% no início da presente semana, contra a média histórica de 13,8% nesta época do ano. No mesmo período de 2021, as vendas para a safra futura, no principal Estado produtor de soja no Brasil, estavam em 24,8%. Jás vendas da atual safra, recentemente colhida, chegavam a 67,8% do total, contra a média de 72,4% nesta época do ano. (cf. Imea).
Enquanto isso, no Paraná a colheita da soja chegava a 94% da área semeada, sendo que 66% das lavouras que faltavam colher estavam em boas condições. Enfim, segundo o estudo BIP (Business Intelligence Panel), feito pela Spark Inteligência Estratégica, relativo à cultura da soja na safra 2020/21, tem-se que a adoção de biotecnologias pelo produtor está consolidada. O surgimento de novos recursos do gênero, afirma a empresa, impulsionou o crescimento do mercado de sementes da oleaginosa para R$ 15,6 bilhões, 40% acima do registrado na safra anterior. De acordo com o estudo, sementes com ‘Bt’, por exemplo, chegaram a 81% das áreas cultivadas, e as RRs a 99%. As sementes Bt ocupavam 6 milhões de hectares ou 20% da área plantada da oleaginosa no período 2014/15. “Na última safra essas tecnologias preencheram 30,6 milhões de hectares, alta de 400%”. De acordo com o estudo, ainda, o avanço da soja Bt possibilitou a diminuição do emprego de defensivos agrícolas para lagartas. “Na safra 2014/15, lagartas da soja demandaram 64% da movimentação de inseticidas foliares, ou seja, cerca de US$ 1,3 bilhão. Hoje, estes produtos equivalem a 28% do segmento (US$ 422 milhões).” Por sua vez, as sementes do tipo RR também avançam em ritmo acelerado, safra após safra, entre as tecnologias preferenciais do produtor. “RRs tiveram adoção de mais de 90% nas últimas sete safras e ocuparam 99% dos cultivos no ciclo 2020/21.” Conforme o estudo, esses avanços tecnológicos contribuíram, diretamente, para o aumento da produtividade média da soja brasileira, que era de 49 sacos por hectare, no período 2014/15, para 59 sacos por hectare em 2020/21 (20% a mais). O estudo em questão entrevistou 4.000 produtores nas principais regiões produtoras de soja do país.
Fonte: Agrolink