Mulheres no Campo: Marize Costa - Sistema ILPF
04 Mar 2012
Na semana em que comemoramos o Dia Internacional da Mulher (8 de março), nada como começar contando um pouco da vida de uma personagem forte e que vem carregando a bandeira de exemplo no sistema Integração Lavoura, Pecuária e Floresta.
Marize Costa, proprietária da Fazenda Santa Brígida, adotou este sistema em 2006, de modo inovador e competente, mesclando milho, soja e pecuária e agora testando um consórcio tríplice: silvicultura, lavoura e capim.
Conheça e inspire-se nesta biografia escolhida para a Série Mulheres no Campo, divulgada aos domingos no Portal da Rural Centro.
Rural Centro - Para começar, conte-nos um pouco da sua trajetória pessoal, o começo no agronegócio, um pouco da sua família. Afinal, quem é a Marize Costa que tanto se ouve falar?
Marize Costa - Muitas vezes até eu me surpreendo com a guinada que a minha vida deu, após 2006. Até então, eu vinha tendo uma vida tipicamente urbana, de quem cresceu, estudou e se desenvolveu profissionalmente, casou e teve seus filhos, sempre vivendo “literalmente" distanciada em relação ao campo.
A necessidade de me envolver com a atividade rural surgiu após a perda do meu marido, quando tive que decidir entre vender ou assumir uma fazenda de pecuária tradicional no sudeste goiano.
Inicialmente optei por não vender, entretanto, como a mesma não gerava nenhuma receita adicional, fui obrigada a manter minhas atividades profissionais, como ortodontista e professora, já que naquela época eu era pai e mãe de três filhos adolescentes.
Acostumada na minha profissão a fazer diagnósticos, rapidamente concluí que o modelo de negócio implantado na fazenda era decadente e sob nenhum aspecto economicamente sustentável. O solo estava totalmente degradado e infestado de cupins, necessitava de grandes correções e investimentos.
Dentro desses problemas, optar pela recuperação na forma tradicional era inviável.
A partir desta constatação, fui em busca de alguém que pudesse ter as respostas às questões que me angustiavam e foi na Embrapa, que encontrei o apoio e a tecnologia necessária para construir um novo modelo de negócio, a partir da Integração Lavoura Pecuária Floresta.
RC - O Agronegócio, como um todo, ainda rompe as barreiras do machismo, como é então ser uma mulher que serve de exemplos a produtores que querem ingressar no sistema de integração?
MC - Inicialmente quero esclarecer que não me sinto um exemplo de produtora rural, mas apenas uma mulher que para sobreviver precisou repensar a forma de produzir num ambiente degradado e decadente, e buscar uma maneira mais inteligente para resolver o problema. Como não tinha nenhum paradigma a ser quebrado, tudo foi muito mais fácil e rápido.
Em qualquer atividade profissional, que é historicamente dominada por homens, a mulher para conquistar o seu espaço, precisa se impor pelo conhecimento e ter perseverança na defesa das suas idéias e na agropecuaria não é diferente.
RC - Qual é o segredo do sucesso no sistema diferenciado de ILPF que você adotou?
MC - A tecnologia da Integração Lavoura Pecuária e Floresta, é a biodiversidade aplicada no agronegócio de forma racional, eficiente e sustentável. O segredo está no equilíbrio da natureza, convivendo em harmonia com o ser humano e a tecnologia desenvolvida por ele. A Integração Lavoura Pecuária Floresta não é apenas uma forma mais eficiente de produzir alimentos, mas acima de tudo um compromisso dos agropecuaristas com o futuro do nosso País.
RC - Nesses seis anos de implantação de ILPF na sua propriedade, quais foram as maiores dificuldades encontradas e como foram superadas?
MC - As dificuldades foram muitas, desde a desconfiança na tecnologia, a falta de crédito específico e principalmente de um modelo de gestão moderno, com controle adequado de custos e técnicas de desenvolvimento de recursos humanos.
Funcionários habilitados para desenvolver as atividades multifuncionais exigidas por uma fazenda no sistema de integração foram, e continuam sendo, um dos maiores gargalos do agronegócio brasileiro. A baixa qualificação da mão de obra, que aliada a elevada rotatividade no trabalho e uma legislação trabalhista inadequada, continuam a pressionar nosso custos e reduzir nossa competitividade em relação a outros países mais eficientes como os Estados Unidos e a Argentina.
RC - Com tantos compromissos, tantas responsabilidades, como concilia a vida pessoal com a profissional? Há espaço para a vaidade feminina?
MC - Na agitação do mundo atual globalizado, eu resumo tudo como sendo uma questão de prioridade e paixão. Saber dar preferência as coisas mais importantes naquele momento e ter fé e intensidade na realização de cada uma das tarefas é fundamental para otimizar nosso tempo e dar sentido a vida.
E como uma típica libriana, a vaidade feminina esta presente em minha vida. No meu entender, é a forma que a mulher tem para tornar o mundo dos negócios, mais bonito, humano e menos árido.
RC -Você convidou a Rural Centro ao Dia de Campo Feminino, conte-nos como será este evento e como você vê a atuação feminina no cenário rural, cada vez mais forte.
MC - Este ano estaremos realizando o nosso 6º Dia de Campo dedicado as mulheres do agronegócio. Temos o objetivo de compartilhar nossas experiências e resultados com as agricultoras e pecuaristas, estudantes universitárias, técnicas, pesquisadoras, etc, para acelerar a transferência deste tecnologia desenvolvida pela Embrapa.
O evento terá um formato bastante interessante:
Dia 08.03: Em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, realizaremos no hotel Best Western Le Jardin, em Caldas Novas, uma tarde de palestras técnicas e debates sobre o sistema, para produzir o nivelamento de todos;
Dia 09.03: Na parte da manhã está programada uma visita guiada a Fazenda Santa Brígida, em Ipameri/Goiás onde o sistema iLPF poderá ser visto e discutido in loco, pelos presentes.
RC - Quais são os seus planos para 2012?
MC - A cada ano que passa, evoluímos um pouco mais e este ano o foco está sendo na gestão de processos, de custos e no desenvolvimento de recursos humanos. Além disso, estamos estruturando um núcleo de consultoria na fazenda, denominado "Santa Brígida Consultores Associados" para atender as inúmeras solicitações que nos tem chegado ultimamente, para reproduzir em outras regiões e propriedades o modelo de negócio implantado na Fazenda Santa Brígida.
RC - Qual conselho que você dá aos produtores que desejam tomar a Fazenda Santa Brígida como exemplo de ILPF?
MC - A minha recomendação é muito simples e pode ser aplicada a qualquer atividade humana: coragem para inovar, perseverança e assessoramento adequado. Com estes três fatores bem equilibrados, é possível quebrar paradigmas, viver em harmonia com a natureza e acima de tudo, ter um negócio rentável e sustentável ao longo das gerações.
Você tem sugestões para esta série? Escreva no mural da rede temática Mulheres no Campo, na rede social +Rural.
Fonte: Ana Brito / Rural Centro