Pecuária de corte precisa evoluir para atender demanda crescente e consumidores mais exigentes

11 Jan 2022

 

A demanda por produtos de origem animal cresce a cada ano, especificamente de proteína animal, e essa demanda deve aumenta ainda mais, estima-se em cerca de 30% até 2050.

A demanda por produtos de origem animal cresce a cada ano, especificamente de proteína animal, e essa demanda deve aumenta ainda mais, estima-se em cerca de 30% até 2050. Diante deste cenário, órgãos internacionais projetam que o aumento da produção se dará em torno de 70% pela eficiência produtiva e 30% pelo aumento da área.

 

Professor e pesquisador da FZEA/USP, Saulo da Luz e Silva: “Precisamos trabalhar cada vez mais para sermos mais eficientes em todas as fases da produção, afim de atender essa demanda e não só aumentar a quantidade de produto disponível para os consumidores”. – Foto: Reprodução

 

Aliado a isso, existe também uma maior demanda por parte dos consumidores, que buscam cada vez mais produtos com qualidade diferenciada, seguindo uma tendência de alteração no sistema de comercialização da carne, baseado na qualidade e não somente na quantidade de produtos. “Esses fatores nos levam a entender que precisamos trabalhar cada vez mais para sermos mais eficientes em todas as fases da produção, afim de atender essa demanda e não só aumentar a quantidade de produto disponível para os consumidores. Assim como, investir na qualidade desse produto. Além disso, que esses produtos com melhor qualidade tenham também uma remuneração diferenciada”, destaca o professor e pesquisador da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo (FZEA/USP), Saulo da Luz e Silva, que foi um dos palestrantes da 32ª Reunião Anual e do Colégio Brasileiro de Nutrição Animal (CBNA), promovida de forma online no mês de novembro.

 

Outro ponto importante, abordado por Silva, diz respeito a dois fatores que devem ser considerados na característica da carne, o primeiro deles é o rendimento dos cortes desossados, o qual indica a quantidade de produto a ser comercializado, peso da carcaça, área de olho de lombo e a medida de gordura subcutânea e interna, aspectos que influenciam na qualidade do corte comercial. A segunda está relacionada a qualidade sensorial da carne, voltada à satisfação do consumidor, que abrange a maciez, cor, sabor, suculência e odor. “Cada uma dessas características é afetada de diferentes formas por esses e outros fatores relacionados aos próprios animais (genética, gênero, idade) e pelo sistema de produção (manejo nutricional/pré-abate e práticas que são utilizadas pela indústria após o abate do animal)”, ressalta.

 

Pré-natal

 

Em relação a fase pré-natal, Silva diz que são poucos os estudos que tratam sobre como esses fatores interferem no desempenho do animal após seu nascimento, especialmente na área de bovinos. “É importante que haja mais estudos nesta fase, porque praticamente 25 a 30% da vida do animal acontece quando ele está no útero da vaca. A partir do momento que ocorre a fecundação acontece uma série de processos em que são extremamente dependentes de nutrientes e que marcará a vida desse animal, então é uma fase da vida com muitas transformações, com muita exigência de nutrientes. Nesse período ocorre de maneira geral o crescimento dos tecidos, especialmente do tecido muscular esquelético, que é o que nos entrega lá no final o rendimento da quantidade de cortes da carne”, menciona Silva, acrescentando: “É nessa fase que ocorre o crescimento das fibras musculares, basicamente através do processo de hiperplasia das fibras musculares”.

 

Desta forma, qualquer problema ou deficiência que ocorra neste processo pode comprometer o desenvolvimento posterior do animal em função de que essa fase de crescimento hiperplásico somente ocorre durante a vida fetal e depois que o animal nasce, independente do como esse animal é manejado, essa diferença dificilmente é recuperada.

 

O impacto da nutrição materna durante a gestação vai além dos efeitos sobre a deposição dos tecidos muscular e adiposo, aqui destaca-se os impactos positivos na eficiência reprodutiva da vaca e suas progênies, melhora a saúde da progênie, aumento de peso à desmama e o maior peso corporal e de carcaça ao abate.

 

Além disso, a nutrição materna durante diferentes estágios de gestação pode influenciar o crescimento fetal, especificamente o desenvolvimento dos tecidos muscular e adiposo. Bem como expõe que a subnutrição materna reduz a massa muscular e aumenta a gordura total da progênie (não necessariamente a marmorização). “O efeito negativo da restrição nutricional materna durante a gestação depende da severidade e do momento da restrição, assim como da condição corporal da vaca e da sua capacidade de amenizar os efeitos do suprimento de nutrientes para o feto ou neonato”, pontua.

 

Os efeitos da nutrição materna são de enorme significância prática para os produtores, independente do seu efeito específico sobre seu crescimento fetal, se o feto é mais leve ou mais pesado, o efeito global desse melhor tratamento dos animais se reflete em toda a cadeia produtiva.

 

E, por fim, considerando que grande parte da variação para as características de desempenho em confinamento, carcaça e qualidade de carne não são claramente explicadas, o pesquisador sugere que abordagens mais específicas sobre determinados aspectos da nutrição nas fases de gestação até a desmama devem ser incentivadas. “A maior parte dessa variação que ocorre na maciez, na cor ou no rendimento de cortes ainda não estão bem explicados, as fontes de variação não são bem entendidas. É importante que a gente se aprofunde neste tema para que possamos entender melhor esse processo e com isso tomar ações que possibilitem a gente melhorar e evitar qualquer perda neste sentido”, ressalta Silva.

 

 

Fonte: O Presente Rural



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