Sobre o Pantanal: como é a criação de gado no Pantanal?
14 Dec 2011
No meio do Pantanal de Nhecolândia, a mais de 120 km de Corumbá/MS, passando por cinco horas de estrada de terra e fazendo a travessia de balsa do rio Paraguai, está Fazenda Nhumirim, da Embrapa Pantanal. Na última semana a Rural Centro acompanhou a visita de técnicos à propriedade para conhecer o projeto Construção da Imagem da Pecuária Sustentável do Pantanal, coordenado pela jornalista Ana Maio da própria Embrapa.
A viagem, que você acompanhou na série Sobre o Pantanal em textos, vídeos e fotos, durou três dias, mas a visita ao campo aconteceu somente na quinta-feira 08. Pela manhã, assim que os visitantes saíram da garagem da sede da fazenda e começaram a percorrer as invernadas da Nhumirim, nos deparamos com uma boiada sendo tocada pelos peões. Eram cerca de cem matrizes nelore, com dispositivos de IATF – Inseminação artificial por tempo fixo aplicado, esperando para serem inseminadas no sábado.
Vídeo: peões tocam vacada com dispositivo de IATF até o mangueiro da Fazenda Nhumirim:
Apesar de no Pantanal o ritmo das atividades ser ditado pela natureza, isso não impede que sejam utilizadas tecnologias e sistemas de produção de ponta, principalmente na pecuária. Nesta mesma quinta-feira, pouco antes do almoço, chegariam mais pesquisadores da Embrapa Pantanal, entre eles Urbano Abreu e José Aníbal Comastri, responsáveis pela aplicação da técnica. Em dezembro, já foram inseminadas 300 novilhas. Em janeiro haverá ainda aplicação da técnica no último lote de matrizes da Fazenda Nhumirim.
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É importante observar ainda que toda essa tecnologia está em harmonia com o balanço energético e a sustentabilidade da região. Em conversa com a pesquisadora Raquel Soares, durante passeio a céu aberto na carroceria da camionete pelos campos da Nhumirim, perguntamos se aquelas planícies abertas, vastos campos de pastagens no meio do Pantanal, eram ação do homem. “Nada. Isso aqui é obra da força das águas”, sorriu a pesquisadora.
Como demonstrado no infográfico da emergia no Pantanal, as águas das chuvas e das baías descem das cordilheiras (pontos mais altos) e trazem matéria orgânica para as terras. Assim que escoam as águas, as pastagens nativas começam a germinar e estão prontas para alimentar os animais silvestres e rebanhos bovinos, ovinos e até suínos, que reviram as terras em busca por comidas, como minhocas, raízes e insetos. Além disso, as pragas e plantas invasoras não resistem ao alagamento e são eliminadas, garantindo com que as espécies nativas resistentes mantenham o equilíbrio da flora pantaneira.
Pastagens nativas do Pantanal
Uma das soluções para a pecuária no Pantanal é o uso econômico das pastagens nativas. A dificuldade para sua correta utilização é que, quando esgotada a pastagem, sua reforma exige um pouco mais de cuidado. “Cada região do Pantanal tem uma pastagem nativa específica. A pastagem deste piquete não é igual ao piquete da fazenda vizinha, por isso não é fácil fazer o manejo. Quando o pasto está esgotando, ou o pecuarista faz a vedação de pastagem ou diminui a lotação”, explica Raquel.
O rebanho bovino do Pantanal chega a 5,5 milhões de cabeças de gado. A planície é conhecida por ser uma região produtora de bezerro, principalmente pela inviabilidade de se engordar gado. “Aqui não tem como colocar um confinamento por causa do alagamento. Sistemas intensivos de produção estão descartados. Se você for engordar seu gado, na viagem até o frigorífico ele já perdeu um bom peso, então é mais adequado usar o Pantanal na produção de bezerros”, mostra a pesquisadora Raquel Soares
Como é a pecuária no Pantanal?
• 5,5 milhões de cabeças de gado
• 270 anos de atividade sustentável, ocupação mais antiga que a do Planalto, por exemplo
• Conhecida como uma região produtora de bezerro
• Inviabilidade de sistemas intensivos de produção
• Uso de pastagens nativas
• Uso do pastejo no controle de incêndios
Durante a última apresentação da pesquisadora Raquel Soares pelo projeto Construção da Imagem da Pecuária Sustentável do Pantanal, a coordenadora do curso de agronomia da Universidade Católica Dom Bosco – UCDB, Rúbia Renata Marques, ressaltou: “as ações devem ser voltadas não somente para os animais, mas também para as pessoas. É importante desenvolver a população local”. E de fato tudo está integrado na planície do Pantanal. Desde o nascer do sol, passando pelos animais que proliferam a vida até as chuvas que escurecem o céu, está tudo em harmonia e nada indica que será diferente. A natureza quebra quaisquer barreiras usando as águas como braço forte.
Na manhã seguinte, sexta-feira (9), os visitantes foram surpreendidos com outra imagem: um “pôr-da-lua” fascinante desfalecendo no fim da madrugada no Pantanal da Nhecolândia. Aos poucos, conforme a “comitiva” ia avançando sobre as estradas de terra, o dia ficava cada vez mais claro e o calor mais intenso. No Pantanal é sempre assim. E quem vier a conhecê-lo daqui pra frente, irá encontrá-lo de um jeito muito parecido ao qual estava há 270 anos.
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Fonte: José Luiz Alves Neto / Rural Centro