29 Dec 2010

foto: divulgação/SRB

Uma das mais importantes lideranças do país, produtor integrado à Sociedade Rural Brasileira desde a década de 1960, Cesário Ramalho, atual presidente da entidade, concedeu entrevista exclusiva à Rede Rural Centro.

Ramalho enfatizou a dissociação das associações, que hoje são mais numerosas que influentes, a importância de o produtor estar inserido em rede e a ainda a insegurança para a questão ambiental.

Segundo o presidente da SRB, a resolução do novo código florestal é tão ou mais importante agora do que o comportamento de mercado, já que este não decide a renda do agropecuarista.

Confira abaixo a conversa na íntegra.

Como diferenciar as entidades de lideranças rurais no país?
Nós temos no Brasil três tipos de representações. Uma é feita pela área sindical, outra é feita pelo cooperativismo e outra pelo associativismo. Estas últimas são as entidades civis, que é o caso da Sociedade Rural Brasileira. Isso não conflita em nada com nenhuma outra organização.

Quando você fala entidades nacionais, você tem as dos sindicatos, que vão à confederação (CNA – Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil), as cooperativas, que vão à OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras) e a Sociedade Rural Brasileira. São três segmentos da agropecuária brasileira que atuam de forma um pouco diferente. O objetivo e o foco são os mesmos, mas você tem um campo de atuação diferente.

O sindicato, por exemplo, tem muito balcão, muito atendimento de momento e coisas emergenciais. Cooperativas também têm isso e ainda um lado comercial. Ela dá suporte para o agricultor trabalhar e operar comercialmente.

A Rural Brasileira é uma entidade que atua politicamente no setor. Nós temos aqui uma atuação muito ampla em todos os setores do agro brasileiro, mas não temos balcão. Eu não estou no varejo, eu estou no atacado. Eu tenho as grandes questões brasileiras e as pequenas também. Eu só não tenho detalhamento dessas questões. Uma coisa que acontece em Sidrolândia, Naviraí (cidades do interior do Mato Grosso do Sul), às vezes não cabe muito à SRB, mas se tiver uma necessidade, nós estamos aptos a isso também.

O atendimento de sindicatos e cooperativas é mais imediato, enquanto a luta da SRB é mais perene?
Nós temos essa luta política. Nós entendemos somos um agente político do agronegócio.

A SRB funciona integrada a outros órgãos?

Não integrada porque cada um tem sua personalidade, suas características, mas nós estamos interagindo. Nossos focos não se diferem. O nosso objetivo aqui não é diferente até dos sindicatos rurais por aí, só que focamos isso nacionalmente. Não temos nenhuma variação, por exemplo, da CNA. Nós sentamos em vários fóruns brasileiros e internacionais juntos com a Confederação e não temos nenhuma dificuldade, assim como acontece com as cooperativas também.

As associações que existem são suficientes para suprir a demanda dos produtores?
Completamente suficientes. Não dá pra fazer outras. Não tem mais. Tem os sindicatos dos trabalhadores rurais, essas agriculturas familiares, que eu até não concordo muito, mas você não tem mais. Você pode ter uma entidade regional específica para uma determinada coisa, mas acho que nós, brasileiros, temos que ter menos entidade em número e mais em eficiência. Se nós tivermos muito número, nós dispersamos.

Se eu acho que a entidade está errada, eu tenho que me inserir nela, procurar mudar o posicionamento e buscar um cargo, mas nunca fundar outra. Isso é uma coisa do Brasil que é muito pobre, pequena e que enfraquece profundamente o setor. O que nós temos que ter é entidades fortes, determinadas e ricas. Isso é fundamental. Preocupa-me imensamente mesmo quando a pessoa vai fundar um órgão. As entidades que eu tenho visto são fundadas porque o camarada discorda da atuação de outra associação responsável. Ele tem é que buscar um espaço para valer o que ele pensa e se é válido o que ele pensa.

Qual a principal dificuldade em reunir e atender as preocupações em um país com dimensões continentais e tanta diversidade de condições, como solo e clima?
Eu acho que não tem essa dificuldade. As questões estão sendo todas trabalhadas. Nós temos mais sucesso ou menos sucesso, mas não vejo que tenha questões fora dessa demanda. Eu não entendo que isso possa existir tanto. O que nós temos são detalhes que essas entidades menores regionais e estaduais vão tocando aí e vão buscando resolver. Eu acho que o sistema brasileiro está muito bem representado, ativo e o que nós temos é que andar mais juntos, não fundar entidades. Temos que procurar cada vez mais nos tornarmos juntos.

O produtor tem que estar inserido em algum tipo de rede?
É obrigatório. É o mínimo. Você não torce por um time de futebol? É a mesma coisa, mais ou menos igual. O mínimo que o produtor faz é ter preocupação com o negócio dele. Ele tem que ter uma preocupação com uma entidade que o representa. As entidades estão sempre lutando, mudando seus diretivos, então acho que é fundamental isso aí.

Ainda tem produtor que não tem esse pensamento e tenta resolver os problemas por si próprio?
Nós temos 200 milhões de brasileiros, cinco milhões de propriedades rurais e temos cabeça pra tudo. Mas, felizmente, o mau volume está tranquilamente acomodado. Eu vejo poucas entidades novas. Como você faz representatividade? Junta 10, 20, 30, 50 pessoas. Tem representatividade? Não tem! Eu acho que tem que fazer grupos para, por exemplo, comprar insumos, mercadorias, comprar defensivos e vender as mercadorias. Isso eu acho importante. Agora fundar entidade é um atraso.

Qual preocupação é maior para o produtor rural: estar sujeito ao comportamento instável do mercado ou ao comportamento instável da legislação quanto à segurança jurídica?
A legislação brasileira preocupa. Hoje a maior preocupação nessa questão é a ambiental. Essa é uma questão que nós estamos muito focados nela, trabalhando imensamente. Eu acho que é o maior problema que nós temos no Brasil hoje para a agricultura é a questão ambiental. Agora o produtor não pode descuidar do ambiente, assim como não pode descuidar do mercado. Mais do que tudo, o mercado não ajuda ninguém, não salva ninguém. Se você não tiver produtividade, qualidade de produção, de que adianta o mercado? O mercado, aliás, tem uma participação muito pequena na rentabilidade das coisas. É muito mais a produtividade e a gestão da produção que definem a renda.

Fonte: José Luiz Alves Neto / Rede Rural Centro



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