Números não traduzem relevância da contratação de crédito agrícola
05 Jan 2011
Alimentar o mundo através da aplicação de tecnologia e técnicas de produção não depende apenas da vontade do agropecuarista. O aumento da produtividade pela agricultura de precisão e otimização do tempo com uso de implementos tem um custo acima dos padrões dos modelos tradicionalmente utilizados. Esta parte cabe à contratação de crédito rural.
O incentivo do governo para os produtores vem através do Banco Central, que estipula taxas de juros fixas e abaixo dos valores do mercado, além de fornecer condições adequadas para o pagamento da dívida, compatíveis com a natureza das atividades agropecuárias. Como afirma Loureno Budke, gerente de agronegócios do Banco do Brasil no Mato Grosso do Sul, o interesse em oferecer condições especiais para essas linhas é da política pública, ou seja, da própria sociedade.
O motivo, segundo Budke, é a importância do setor para a economia nacional. “O agronegócio tem importância estratégica em função da expressividade de sua participação no PIB, da necessidade de geração de superávit nas contas externas, geração de emprego e injeção de renda na base da economia da maioria dos municípios em todo território nacional”, exalta Budke.
A quantia disponível para contratação de crédito agrícola depende do governo. Instituições que trabalham oferecendo linhas para o produtor rural têm, por obrigação, que aplicar 65% do capital investido em cadernetas de poupança para o agronegócio. “Nos outros bancos que não trabalham com crédito rural, essa mesma quantidade é aplicada em financiamento para habitação, ou seja, crédito imobiliário para a casa própria”, explica Joarez Gonçalves, gerente de desenvolvimento da cooperativa de crédito Sicredi do Mato Grosso do Sul.
O próprio crédito agrícola, pelo subsídio do governo, não traz resultados aos bancos que o ofertam. “Quando o produtor procura o Sicredi para, por exemplo, construir uma granja, o investimento é de 200 a 300 mil reais em média e o financiamento varia de três, cinco a oito anos. Se esse produtor não administrar o empreendimento que ele dividiu em longo prazo conforme a orientação técnica, ele não trará retorno. Pode acontecer uma tempestade de granizo ou outros contratempos. Então nós vamos ganhar se fidelizarmos o cliente e oferecermos seguro para cobrir um acidente”, diz Gonçalves, ressaltando a relação de parceria com o associado.
Bolsa de Mercadorias e Mercado Futuro
Outra forma de circular o mercado de capitais na agropecuária é a negociação de commodities agrícolas. Encarada com resistência no início do funcionamento de suas atividades, a bolsa de valores tem como função diminuir os efeitos da sazonalidade do agronegócio. “Ainda há muitos obstáculos quanto ao mercado futuro por falta de informação, mas o mercado físico é bem utilizado”, explica Carlos Dupas, vice-presidente da BBM, a Bolsa Brasileira de Mercadorias, vinculada à BM&F Bovespa, a Bolsa de Mercadorias e Futuros.
A BBM oferece aos produtores os contratos de opção do governo, que são leilões de mercadorias com preços anteriormente ajustados. “Você trava o preço em, por exemplo, 20 reais para uma certa medida de produto antes da safra. Se ao final da colheita não houver compradores, você vende para o governo com o preço combinado. Se houver oferta mais rentável, você tem a liberdade para negociar”, explica Dupas.
São duas as alternativas para realizar negócios com a BBM. Uma é procurando os corretores da bolsa para fazer negócio com as traders (nome dado a quem opera na bolsa comprando e vendendo ações) e outro é procurando o governo quando há lançamento do mercado de opções. O trabalho para difusão desta ferramenta foi feito através da própria BBM e do Ministério da Agricultura através de um projeto integrado.
Números
Ainda que a contratação e uso de crédito trabalhe diretamente com números, nem sempre as estatísticas traduzem com exatidão a demanda nacional por financiamento agrícola. É o que explica o gerente de Agronegócios do MS do Banco do Brasil. Loureno Budke lembra que quando há divulgação de que a contratação de custeio caiu, por exemplo, 25%, poucos levam em conta que os custos de produção também despencaram. “Embora tenha uma redução de um quarto nos custos da safra 2008/09 para a safra 2009/10, tivemos um incremento no desembolso total que esperamos repetir nesta temporada, quando novamente tivemos redução de custos em torno de 10%”, finaliza Budke.
Fonte: José Luiz Alves Neto / Rede Rural Centro