Quem sabe responde: doenças em aves
13 Aug 2013
Na retomanda da série de conteúdos "Quem sabe responde", a Rural Centro recebeu a dúvida do usuário Ronaldo Rodrigues de Araújo, de Montes Claros, Minas Gerais. "Minhas aves (pintinhos e franguinhos) estão apresentando no olho uma espécie de massa amarelada, ficando cegos e dentro de poucos dias falecendo. Como posso salvá-los?", indaga Araújo.
A resposta vem da pesquisadora Fátima Jaenisch, que atua na área de Sanidade Animal da Embrapa Aves e Suínos, sediada em Concórdia, Santa Catarina. Jaenisch é médica veterinária pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e mestre em patologia animal pela Universidade Federal de Minas Gerais. A resposta segue abaixo:
"Os sintomas descritos sugerem diversas possibilidades, no entanto cabe ressaltar a dificuldade e fragilidade de um diagnóstico com base em sinais clínicos. Nessas condições, podemos apenas sugerir algumas enfermidades que acometem o sistema respiratório e apresentam os sinais relatados, tais como: aspergilose, micoplasmose, entre outras (detalhes sobre essas doenças estão mais abaixo nesta página).
Em geral, as bacteremias podem ser tratadas com antimicrobianos. No entanto, para a maioria das enfermidades, existem vacinas que previnem a manifestação das doenças, que devem ser utilizadas aliadas aos cuidados de biosseguridade. O fator mais importante é a prevenção, que depende do grau de biosseguridade a que as aves estão sujeitas. Doenças respiratórias, no entanto, são mais comuns em regiões com umidade elevada e temperaturas baixas.
Os prejuízos dependem da enfermidade que está acometendo o plantel. Cabe ressaltar que o custo econômico de certas doenças extrapola o preço de alternativas terapêuticas ou perdas de desempenho e produtividade. Todas as iniciativas para preservar a saúde dos planteis avícolas, tais como as Boas Práticas de Produção (BPP) e programas de biosseguridade nas granjas corroboram para o fortalecimento da avicultura.
Publicações sobre esses assuntos podem ser consultadas no site da Embrapa Suínos e Aves nas Publicações da Série Embrapa.
A descrição do problema enviada é bastante limitada, sendo a conjuntivite a lesão mais evidenciada. Cabe ressaltar a dificuldade e fragilidade de uma resposta, mesmo que presuntiva, com base apenas em sinais clínicos. Nessas condições, podemos apenas discorrer sobre algumas enfermidades que cursam com os sinais relatados:
Conjuntivite em aves: lesão comum nas enfermidades que comprometem o sistema respiratório. Processos inflamatórios agudos na região orbital podem estar associados a patógenos e substâncias irritantes em suspensão no ambiente de produção. Um diagnóstico preciso depende principalmente do exame das aves e comprovações laboratoriais. Dentre as enfermidades nas quais a conjuntivite é uma lesão evidente, destacam-se: aspergilose, micoplasmose, entre outras.
A conjuntivite, com acúmulo de exsudato caseoso na região orbital é observado em casos de contaminação da conjuntiva com esporos fúngicos do meio ambiente. A aspergilose aviária, causada por fungos de gênero Aspergillus pode ser contraída já no incubatório ou durante o período de produção, após o alojamento. Neste caso, as principais fontes de contaminação são a ração, a cama e as instalações úmidas e com mofo. O controle é feito pela intervenção nas fontes de contaminação, reduzindo a proliferação de esporos de fungos no ambiente e na ração. O tratamento com antimicóticos e antimicrobianos pode ser utilizado, em conjunto com os cuidados ambientais referidos.
A micoplasmose aviária é uma enfermidade transmitida verticalmente, ou seja, da matriz para a progênie, e horizontalmente, de ave doente para ave sã. Torna-se mais agressiva quando associada a outros microrganismos como a Escherichia coli, por exemplo. Os sinais clínicos variam com a patogenicidade do agente. No início da doença ocorre conjuntivite com presença de exsudato, muco catarral, espirros, dificuldade respiratória, entre outros sintomas. Essa é uma enfermidade de notificação obrigatória aos órgãos oficiais de vigilância sanitária. O diagnóstico presuntivo é feito a partir da análise detalhada do histórico do lote, sinais clínicos e testes sorológicos, mas só é conclusivo com a complementação por isolamento e identificação do agente. O tratamento é difícil mesmo com antibióticos de última geração. Seu controle requer a adoção de medidas rígidas de biosseguridade e a aquisição de aves livres de micoplasmose.
A coriza infecciosa das aves ocorre com maior frequência em poedeiras comerciais e em planteis com falha nas condições de higiene e biosseguridade. Cursa com edema facial e conjuntivite catarral. Outra bacteriose, como a cólera aviária, causada pela Pasteurella multocida, é mais comum em aves a partir de 8 semanas. As aves apresentam crista e barbelas cianóticas (azul-arroxeada), sinusite e sonolência, febre, descarga mucosa e diarreia. O diagnóstico definitivo deve ser feito por exame laboratorial, com o isolamento do agente (Pasteurella multocida). O tratamento dessas enfermidades pode ser feito com antimicrobianos, tais como sulfonamidas.
A bronquite infecciosa aviária é uma virose, que apresenta sintomas respiratórios, como estertores, coriza, espirros e diarreia, com mortalidade variável. Não há tratamento específico, mas pode ser evitada por meio de vacinação e cuidados de biosseguridade. Outras viroses, como a doença de Newcastle, pneumovirose, influenza aviária e laringotraqueíte das aves, também acometem o sistema respiratório, podendo apresentar conjuntivite, entre outros sintomas. O diagnóstico diferencial conclusivo dessas enfermidades por meio de exames laboratoriais é imprescindível, devido à importância epidemiológica dessas doenças.
Lacrimejamento e conjuntivite também são comuns quando há excesso de amônia e poeira no aviário (no caso de aves criadas em confinamento) e a solução é fazer boa ventilação sem descuidar da temperatura ambiente.
Outra causa pode ser a deficiência de vitamina A. Nesse caso, as aves devem ser suplementadas.
O controle das enfermidades requer a adoção de boas práticas de produção, com ênfase aos cuidados de higiene, limpeza, desinfecção, vacinações, isolamento das instalações das aves e correto descarte e eliminação das aves mortas".
Abaixo, segue a foto enviada pelo usuário para ilustrar a patologia que acomete seus animais:
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Foto em destaque: Embrapa Suínos e Aves
Fonte: Rural Centro